Nessa última sexta-feira, pouco antes do Shabat, nós nos despedimos do nosso grande
amigo e colaborador Luís Fernando, conhecido internacionalmente como Louis. Ele nos
ajudava operando a mesa de som nas cerimônias da SIB, nas transmissões ao vivo, no
funcionamento do nosso site, entre outras coisas. Tinha aquela cara de mau que
sustentava uma barba imponente, mas bastava trocar dois minutos de prosa para
perceber que de mau não tinha nada, mas sim um sujeito alegra e divertido. Talvez a
maioria dos frequentadores da SIB não saibam, mas se trava de uma verdadeira lenda
da música baiana. Louis foi uma das principais figuras do Metal soteropolitano, mas
que não se resumiu unicamente a isso e se enveredando por outros estilos. Uma
verdadeira referência como baterista integrando diversas bandas, participando de
vários projetos e influenciando muita gente. Se analisarmos bem a trajetória musical
de nosso querido Louis, veremos quão extensa e diversa ela é, digna de um
documentário.
“Louis sempre foi fanático por música. Sei que a primeira paixão dele (e a maior
até hoje) era o Iron Maiden, que ele conheceu aos 8 anos de idade quando o irmão
mais velho comprou o disco 'Piece of Mind' em 1983/84. Ele logo se apaixonou pela
bateria de Nicko McBrain.
No final dos anos 1980, ainda garoto começou a participar de bandas underground,
sem nem mesmo ter bateria.
Essa dificuldade fez com que ele aceitasse qualquer convite para tocar, em qualquer
banda, de qualquer estilo, pelo prazer de tocar e pela oportunidade de praticar, ter
contato com o instrumento nos estúdios de ensaios.
Já tinha visto Louis em alguns shows na virada dos anos 80 para 90, mas nos
conhecemos de fato em 1992 e sempre conversávamos quando nos encontrávamos, e
começamos uma amizade.
Em 1994, eu estava saindo da banda que cantava na época e a banda dele tinha
acabado de ficar sem vocalista. Até que nosso amigo em comum, Ricardo “Rick”
Iglesias (baixista), me disse que ele e Louis estavam querendo remontar a banda ou
criar outra e me chamou para uma conversa.
Acabou que deu tudo certo e, depois das primeiras composições, criamos a Shadows,
tendo ainda Jason Bittencourt e Dennis Leoni, como guitarristas.
A banda Shadows durou até 1998. E em 1999, decidimos montar outro grupo, com
parte dos integrantes da antiga banda, e assim surgiu a Drearylands.
Mas desde aquela época, Louis sempre se dedicou e fez parte efetiva ou apenas
participações em inúmeras bandas de Rock e Metal. O negócio dele sempre foi tocar.
Já nos últimos anos, de tanto reclamar da qualidade de certas produções, ele começou
a estudar técnicas de gravação e se lançou como produtor musical. No que vinha se
desenvolvendo muito, trabalhando com algumas bandas do underground da Bahia e
sempre em contato com produtores do Brasil e do mundo.”
(Vocalista Leonardo Leão, amigo de longa data e colega na Drearylands e Shadows)
Iron Maiden – Flight Of Icarus
Muito antes de conhecer Louis ou Leão pessoalmente, eu achei um CD da
Drearylands, creio que o “Heliopolis”, quando tinha por volta de uns 10 anos. Creio que
pertencia ao meu irmão ou algum amigo dele. Não imaginava que estava escutando
uma das bandas mais icônicas do Heavy Metal baiano. Muito menos que anos depois
iria conhecer os integrantes e até mesmo está em um Shabat com um deles.
Drearylands – Efigie
“Durante a pré-produção do álbum 'Novas Ideias Velhos Ideais' da Pastel de Miolos, falei com Louis para me dar umas dicas de pedal duplo, pois tinham músicas com pegada mais 'crossover' e uma música em especial 'Insegurança Masculina', falei com várias ele que numa parte da música tinha uma parada meio 'grunge', um arranjo com pedal duplo, daí ele disse “man, toque aí a música pr’eu sentir da ‘cole’, tocamos e ele pediu pra tocar também, sentou na bateria (que ficou pequena de gigante que ele era, a diante era um modelo Jazz), tocou a música com o arranjo pedal duplo e depois de tocar ele falou “man, ‘tá’ lindo isso sem pedal duplo, meter pedal vai ficar ‘mais do mesmo’. Deixa como tá, man. O arranjo que você fez tá lindo, tá ‘old school’! Não invente, não!”. Ver Louis tocar era algo sublime. Incrível como ele tocava de forma sutil, tornava algo bem fácil tocar bateria, e pra ele, era fácil. Último contato que tive com ele foi meses atrás, sobre um LP do Iron Maiden e conversei muito sobre Nicko McBrain e a influência de Nicko sobre a forma dele tocar.”
(Wilson Santana, baterista da Pastel de Miolos)
Quando eu tinha por volta dos meus 15 anos e já me via e era visto como um jovem Headbanger, fui para uma festa da SIB de Yom HaAtzmaut em algum hotel. Lá eu conheci Isabela, filha de Cláudia, que se sentou na nossa mesa, a mesa do Dror. Nos
demos bem, creio que por nossas preferências musicais e literárias, e saímos juntos
algumas vezes. Acabou que ela se tornou amiga de alguns amigos meus, eu me tornei
amigo de alguns amigos dela e descobrimos que tínhamos amigos em comum. Fiquei
alguns anos sem ver Isabela e acabamos nos reencontrando “por acaso” no show de
uma das muitas bandas de Louis, a The Cross, uma banda de Doom Metal no extinto
Dubliners Irish Pub do Rio Vermelho. Acho que era um domingo em que os shows começaram no fim de tarde e era mais voltado para o Metal extremo. Caso não esteja
enganado, tocou também uma das maiores bandas de Black Metal do Brasil, Mystifier,
banda que Louis já fez parte. Curiosamente para mim, Louis, que eu não via tocar há
um tempo (na época eu realmente achava que era irmão de Leão), e Isabela, que eu
não via há tanto tempo quanto, estavam juntos e, através disso, tive minha primeira
conversa longa com ele. Anos depois acabo me encontrando mais com ele na sinagoga
do que em shows.
“Em nome do the Cross, eu Eduardo Slayer, e meus companheiros Paulo Monteiro, Daniel Fauaze e Leandro Kastiphas, neste dia devastador nas nossas vidas, em que perdemos nosso Baterista, Irmão, Amigo e Produtor Louis. Aquele que deixou este plano no dia de hoje fazendo o que mais gostava, tocando bateria. No momento, não temos palavras pra descrever o devastador sentimento de perda, mas ao mesmo tempo, só temos gratidão, e externamos todo nosso sentimento de amor, carinho e admiração a Louis e toda a sua família, a todos os músicos e bandas com quem ele deu a honra de oferecer seu talento em prol da arte. Um dia estaremos juntos, meu irmãozinho, carinhosamente, 'Bibo'. Que o Cosmos o receba com todas as honras merecidas nosso grande irmão. Nós te amaremos pra sempre.”
(Eduardo Slayer, vocalista do The Cross)
The Cross - Sonnenstein Castle
Como começamos a nos encontrar com mais frequência por causa da SIB, conversávamos mais. Falávamos coisas triviais como música, filmes e jogos (na nossa última conversa, estava empolgado com a tarde de jogos na SIB e sobre a mesa de RPG que fez parte por anos). Quando voltei a produzir eventos e comecei a focar no Metal e Punk, fiz questão de conversar com ele sobre isso e me compartilhou que estava com um projeto novo que ainda estava ensaiando, mas que sairia ainda esse ano. Falamos sobre fazer um evento com esse projeto novo Augustus que faria seu primeiro show no domingo 21/08. Também conversamos um pouco sobre produção musical, algo que começou a se dedicar nos últimos anos, mas logo se tornou um destaque como em tudo que fazia. Foi uma terrível surpresa abrir as redes sociais no sábado e ver tantas mensagens de carinho e admiração de amigos, colegas e fãs. Confesso que demorei um tempinho para entender o que estava realmente acontecendo. Mas uma coisa foi fácil de entender, que estará para sempre eternizado nos corações daqueles que o conheceram. Poucas pessoas despertam tanta emoção e sentimento em tantos e tão
diversos.
“Eu conheci a Shadows em 1995 num show que eles fizeram em um festival em praia de flamengo, eles tocaram em cima de um caminhão, -quando comecei a ouvir e frequentar o Metal- e fui nesse show sem saber o que ia encontrar, aí vi um monte de cara gordão em cima do caminhão, tocando rápido, muito técnico, fantasiados, aquelas roupas vitorianas, chapéu, Leão usava capa. Eu já me vestia parecido a André Matos, imitando ele mesmo, então Louis veio me perguntar se eu me vestia assim influenciados e inspirados na banda deles (Shadows), e eu disse que era por conta de André Matos. O primeiro contato com ele foi esse, ele me abordando sobre minha roupa. Aquelas camisas de babado vitoriana, colete, e eles se vestiam parecidos (a Shadows). Depois daí não perdemos mais contato, não nos falávamos todos os dias, mas éramos amigos, sempre nos encontrávamos pra resenhar principalmente por conta da roupa, que sempre ficou marcado. De lá pra cá, estudei, saí de fã para músico de Heavy Metal.
Cheguei a trabalhar como apoio de palco com ele em uma das bandas dele. E recentemente ele produziu o novo disco da Inner Call, “Leviathan”, e aí eu pude, de fato, passar um tempo com ele. Foram alguns meses frequentando a casa dele. E como produtor, ele é muito exigente. Muito exigente mesmo. Nós tivemos algumas discussões. Ele era produtor do disco, também era responsável pela mixagem e ajudar nas ideias e na composição da parte musical e voz também. Então ele queria que eu cantasse um pouco menos “limpo” do que estou acostumado. Queria algo mais Dio, Bruce Dickinson, Rob Halford, o que não é muito meu forte. Fisiologicamente pra mim é mais complicado. Um cara muito exigente como produtor e com um ouvido absurdo para captar notas e profissional demais. Ele me cobrava muito. Era muito exigente, muito talentoso, com boas ideias e muito rigoroso. Eu me tornei quase que um outro cantor. Eu melhorei em certos aspectos que eu não tinha até trabalhar com ele. E como músico... Nem tenho o que falar, Louis era um dos melhores bateristas do mundo. Quem teve a oportunidade de ir a um show da Shadows, Dearylands ou The Cross, viu como é Louis tocando. Um baterista com uma técnica muito apurada.
Acho Louis muito técnico. Não manjo de bateria, mas ele era muito técnico. Tinha muita coisa de Jazz... de Fusion (Jazz). Não sou expert no assunto (bateria). Ele escutava muita coisa “clássica” como Iron Maiden e Black Sabbath, mas também muita coisa moderna. Ele foi baterista da Cobalto, né? Então tem muitas referências modernas.
Pelo que pude ver dele, principalmente no período que eu frequentei mais a casa dele durante as gravações do disco, ele era um cara extremamente devotado à esposa. Ele sempre amou muito Isabela. E sempre vi na relação deles dois essa cumplicidade, esse amor, de fato, puro. Muita doação de um para o outro. Isso sempre me chamou atenção, o jeito e maneira como sempre se referiu à esposa. Acho que era uma característica bem marcante nos dois. Eles tinham uma relação muito bonita, muito pura, muito verdadeira. Sempre admirei muito a devoção de como ele amava a esposa.”
(Roberto “Índio” Santos, vocalista da Inner Call)
Show da Shadows em 1997
“Conheci Louis muito cedo, porém não tínhamos contato muito próximo. Não sei por que, mas no início tinha a ideia de que os caras não eram muito acessíveis, coisa que foi sendo totalmente eliminada no decorrer do tempo. Conheci o cara acompanhando a cena Metal de Salvador (que sempre um caldeirão para produção de boas bandas e à época era bem mais consistente que atualmente) e não propriamente essa ou aquela banda.
Como eu toco bateria, alguns bateras locais me chamaram a atenção e Louis era um deles. Sempre achei muito interessante a forma como ele podia reproduzir e escrever linhas de bateria de qualquer estilo de Metal (haja visto as bandas em que tocou) e sempre com técnica e eficiência que realmente me chamavam a atenção. Algumas poucas vezes tive a oportunidade de atuar como roadie dele e eu aproveitava a situação para ficar curtindo a aula, pegar os macetes e técnicas que ele utilizava. E muitas vezes viajava naquilo e não percebia que ele estava reclamando porque eu não fiz determinação ação.
Tivemos uma proximidade maior por conta dos trabalhos de gravação do terceiro trabalho do Inner Call, “Leviathan”. Louis atuou também como produtor das músicas do disco que melhoraram bastante as ideias originais, ele tinha um sentido muito apurado e não só dizia porque isso funcionaria melhor com a ideia dele, mas explicava o porquê. Demorei um pouco para entender quando eu chegava no estúdio com tempo um pouco curto e já com algumas ideias prontas na cabeça e porque ele ficava me mostrando “N” músicas de outras bandas, inclusive bandas onde ele tocava ou produzia e depois ficar explicando como aquelas músicas foram produzidas, como a produção alterou radicalmente a música. Muitas vezes estamos com a visão meio fechada com alguma ideia e com o tempo corrido acabamos perdendo boas ideias. Louis conseguiu trabalhar isso na minha cabeça. Foi de fato a primeira vez que trabalhamos com uma pré-produção em estúdio e, mais uma vez, aproveitei ao máximo para aprender, principalmente na questão das linhas de bateria. Inclusive, na primeira sessão de gravação de bateria passamos o dia todo no estúdio. Quando finalizamos e estou indo embora para casa vou olhar o celular e uma infinidade de mensagens informando da morte de André Matos. Foi a partir dessa fatalidade que veio a ideia de homenagearmos André de alguma forma.
Foi uma grande perda, como pessoa e também na música pesada baiana em geral. Fica o legado nas muitas bandas em que tocou e nas diversas músicas gravadas.”
(Luiz Omar Gonçalves, baterista da Inner Call)
Cobalto – Fearing To Bleed
“É difícil falar de influências porque Louis ouvia de tudo. Era tão eclético que me incomodava às vezes. As maiores referências do início eram Iron Maiden (Nicko McBrain) e Sepultura (Igor Cavalera). Depois vieram Mercyful Fate, King Diamond, Candlemass, Running Wild, Skyclad, mas, ao longo da vida, ele curtiu e se inspirou em milhares de bandas e artistas, sempre garantindo que seu som ficasse com a “cara” dele. Assim, ele era tanto fã de Slipknot, In Flames e Soilwork, quanto de The Gathering, Anathema, Soen, Tool, Opeth e, ainda, músicas sem bateria como Loreena McKennitt, Enya etc.”
(Vocalista Leonardo Leão, amigo de longa data e colega na Drearylands e Shadows)
Sepultura foi uma das minhas primeiras referências de Metal e essa música, um cover de Black Sabbath -que mencionei que o baixista Geezer Butler socou um fã antissemita e é casado com uma judia-, acho uma boa execução na bateria por parte de Igor Cavalera. Interessante também mencionar, que o guitarrista Andreas Kisser se converteu ao judaísmo para casar com sua esposa Patrícia, falecida recentemente. Banda formada em Belo Horizonte em 1984 pelos jovens e inexperientes irmãos
Cavalera (Max e Igor) junto com Jairo Guedez e Paulo Jr. Inicialmente era uma banda
meio Death meio Black Metal ainda meio mal tocado, sujo e agressivo, mas com seu
charme envolvente. Jairo sai e entra Andreas, que podemos dizer que era o menos
“punk” e o mais “erudito” musicalmente da banda que acaba elevando (e muito) o
nível da banda. Não sei se aqueles jovens que mal sabiam tocar e escreviam letras em
inglês compilando trechos de outras músicas por não saber falar o idioma, imaginavam
que sua banda se tornaria uma das bandas mais importantes e influentes do Metal
mundial.
Sepultura - Symptom of the Universe
Confesso que nunca fui fã de King Diamond ou de Mercyful Fate, sua banda, mas foi algo que aprendi a respeita ainda na adolescência. E não é por não gostar das músicas, pois até gosto, mas nunca consegui me prender como me prendi a outras. Contudo, não podemos negar a importância musical que teve para o Metal e muito menos suas capacidades e técnicas vocais. Nascido na Dinamarca, King Diamond tem como marca suas roupas e pinturas faciais, assim como sua extensão vocal e uso de falsete em músicas pesadas. Podemos dizer também que Diamond foi um dos primeiros a incorporar letras com conteúdo mais “malignos” em suas músicas.
Agora eu vou mostrar uma conexão quase impossível de se imaginar entre King Diamond e o povo judeu. Eu não sou fã de Rap, mas respeito bastante. E um grande
amigo meu, Galf, que foi baixista da Ivan Motosserra Surf&Trash, hoje é famoso por sua carreira de rapper, mas sua carreira musical começou entre o Punk e Metal
extremo, mas especificamente como Grindcore. Acontece que um dia ele me mostrou
dois rappers, com aquela pegada bem gangster, judeus e Headbangers, Necro e seu
irmão Ill Bill. Os clipes deles deixam bem claro suas bases no Metal, Rap, judaísmo e
“gangueragem”. Ill Bill se juntou com o rapper siciliano-americano Vinnie Paz e criaram
um projeto chamado “Heavy Metal Kings” e a música “Mercyful Fate”, clara referência
direta a banda de King Diamond, que é uma grande homenagem ao mundo do Metal.
Mercyful Fate – Evil
Eu acho que conheci Candlemass durante a adolescência através do programa
Riff da MTV que era apresentado pela filha de Marcelo Nova, vocalista da Camisa de
Vênus, Penelope Nova. Na época, além de ser veiculada ao seu pai, também ao seu
namorado e vocalista do Shaman (ex-vocalista do Angra e Viper), André Matos. Na
verdade, esse programa ajudou a conhecer várias bandas e, entre elas, Candlemass.
Trata-se de uma das primeiras e maiores bandas de Doom Metal e provavelmente uma
inspiração direta para do The Cross. Lembro que a primeira música que conheci e vi o
clipe foi “Bewitched” e, mesmo não sendo muito fã desse tipo de Metal (ou gosto da
banda ou acho chata) fiquei meio “enfeitiçado” pelo conjunto de imagem e som. Com
esse ar sombrio, pesado e fúnebre, algo me atraiu nesses suecos. Se assistir o vídeo,
verá que existe uma “tosquera” gostosa cativante. O tipo de coisa que eu e meus
amigos fazemos. Mas independente dessa “tosquera” visual, a banda é boa, tecnicamente falando, e o seu vocalista, Messiah Marcolin, trazia elementos de Ópera.
Inclusive a banda era um tanto performática e trazia um “q” épico em muitas das suas
músicas (o que não me agrada tanto, mas não tira o mérito deles).
Candlemass – Bewitched
Lembro quando era adolescente e estava completamente sedento por conhecimento musical. Todo dia era dia de procurar, encontrar e ouvir novas bandas, principalmente de Metal. Então fazia descobertas pessoais diariamente, principalmente através de amigos e amigos de amigos. Claro que a MTV e revistas também ajudaram nesse caminho. Lembro que uma vez um amigo do meu irmão, Sócrates -figurinha carimbada de shows de Metal-, enviou uma lista de bandas que ele julgava importante eu conhecer e entre elas estava, Running Wild. Não gostei de tudo, mas gostei de várias coisas. Lembro que mandei para um amigo meu que havia entrado no Metal mais ou menos na mesma época que eu, porém ele era muito mais do Heavy e Power e eu era do Thrash e Crossover. Achei legal que eles tinham uma temática, não em todos os discos, de piratas e achava isso interessante e, de certa forma, engraçado. Running Wild faz parte a grande leva de bandas de Metal alemãs que surgiram nos anos 1980s em diversas vertentes como Halloween, Scorpions, Sodom, Accept e outras.
Running Wild – Raw Ride
“É impossível listar todas as bandas e projetos em que Louis tocou. Em várias bandas ele não gravou nada, apenas fez shows, como Camisa de Vênus, Tharsis e Vendo 147. Com outras ele gravou, mas não fez show, como Aztlán e Unholy. Entre as bandas que ele fez parte, destaco: Drearylands, Augustus, The Cross, Cobalto, Yun-Fat, Pandora e Mystifier.”
(Vocalista Leonardo Leão, amigo de longa data e colega na Drearylands e Shadows)
“Com pesar que lamento a morte de Louis que tocou no Mystifier por três anos. Tive a felicidade de contratar esse grande músico para gravar alguns tributos, como o do Sepultura, também nosso quarto álbum 'Profanus' (2001) e o single para celebrar os 10 anos do Mystifier em 1999. Lembro também de alguns shows que fizemos com nosso querido Luís
Fernando. Entre eles, teve o show que fizemos no (antigo) Idearium e demos um giro onde tocamos em Recife e em Natal... creio que foi 2000 ou 2001, antes do lançamento do nosso quarto álbum.
Nós trocamos muitas experiências. Aprendi muito com ele. Era um baterista que dominava o tempo e pude aprender muita coisa de arranjo com ele. Já que eu adoro bateria, sempre gostei de criar arranjos percussivos e Louis sempre teve muitas ideias. Isso já demonstrava seu grande talento como músico que tocou em várias bandas soteropolitanas. Mas o que também fiquei admirado, foi ele como técnico de som e produtor. Vou denominá-lo assim, porque hoje as pessoas chamam de 'produtor' qualquer dono de estúdio que grava uma banda. Mas pra ser produtor é muito mais que isso e nosso Luís Fernando era muito além disso... se envolvia nas produções. E eu fiquei admirado com a forma como ele fazia (as gravações) que não eram nada analógicas. Hoje eu estou numa 'pegada' mais analógica e eu fiquei impressionado com o som que ele tirou, principalmente com a banda The Cross onde ele vinha fazendo um grande trabalho. Louis sempre muito prestativo, gravando, apoiando, produzindo... tirando som de pedra, sem nenhum equipamento caro. E assim fez grandes gravações na Bahia.
Foi com pesar que recebi a notícia da morte dele pelo seu companheiro de banda Leandro Kastiphas que foi do Mystifier e é membro do meu projeto solo. Fico sentido por Louis não ter alcançado voos mais altos. Hoje não moro mais na Bahia, mas estou sempre antenado e trocava algumas figurinhas com ele quando eu fui produzir o meu trabalho solo. Troquei com ele algumas ideias, alguns conselhos, algumas dicas. E com certeza o Metal baiano, em especial, o soteropolitano, até hoje chora sua partida para outra dimensão. Desejo força a família, amigos e bandas pela perda lastimável do Metal soteropolitano, do Metal baiano e do Metal nacional. Espero que as bandas consigam achar um membro que esteja à altura, mas acredito que seja muito difícil. Fico sem palavras para homenagear nosso querido Louis Bear, mas não poderia deixar de prestar essa grande homenagem ao nosso amigo. Espero que todos possam superar, principalmente sua esposa. Com certeza o Metal baiano está carente com essa grande perda. Força para todos.”
(Armando Beelzeebubth, guitarrista do Mystifier)
“Conheci Louis sem saber de seu passado musical, na época ele estava sem tocar em banda e eu também estava sem tocar em banda a quase 10 anos. Eu namorava uma amiga de Isabela, esposa de Louis. Nós saíamos juntos, eventualmente conversámos de som e ele me contou sobre as muitas bandas que ele havia tocado no passado como Cobalto e Yun Fat. E logo voltou a tocar e me falava das bandas em que estava: Drearylands, Acanon, Augustus (ainda em projeto) e The Cross. Grande fã do Iron Maiden, ele gostava de muita coisa desde a velha escola, quanto das novidades do metal com maior progressividade e experimentação sonora. Gostava muito de conversar com ele e ouvir seus conselhos, tanto de músico e produtor musical, quanto da vida.
Sinto muito a falta do meu amigo, meu irmão mais velho. Fico feliz de fazer parte dessa homenagem, sempre honrarei o legado de Louis just Louis e carregarei as nossas lembranças em meu coração.”
(Allan Faislon, guitarrista e vocalista da MAW)
“Perdemos um dos grandes do Metal da Bahia, Louis Bear ou Luís Fernando, como o chamávamos na adolescência. Músico e produtor de altíssimo nível, que começou junto conosco nessa estrada injusta e viciante do Heavy Metal.
Todo nosso respeito a nossos irmãos da Drearylands, The Cross, Augustus e tantas outras bandas da Metal e de Rock da Bahia que tiveram em algum momento este baterista espetacular em sua formação.
Nossos sentimentos à família de Louis Just Louis.
Obrigado por tudo, Louis”
(Lord Vlad, baixista e vocalista da Malefector)
Show da Yun-Fat no festival da Estopim em 2008
Creio que depois de tudo que foi dito, principalmente por esses grandes músicos, ficou claro a importância de Louis para o Rock e Metal baiano. Foi uma enorme perda tanto pelo lado sentimental quanto pelo musical. Será (está sendo) um período difícil para amigos e familiares, assim como para a música (principalmente extrema) baiana. Do mesmo jeito que não imaginava escrever um texto sobre Louis, não imaginava que colocaria tantas bandas de Metal num artigo do SIB E-News. Eu sei que não são músicas palatáveis para a maior parte dos leitores, mas seria impossível falar da trajetória desse nosso amigo e colaborador sem falar dessas bandas. Não sei se a homenagem foi digna (espero que minimamente tenha sido), mas acredito que estaria bem contente com tanto carinho, admiração e Metal que houve nesse texto.
Infelizmente nem todos os músicos e parceiros que entrei em contato tiverem como me mandar seus depoimentos por conta da correria da vida. Entre esses, gostaria de mencionar Binho Breja (Behavior, Overdose Alcoólica e muitas outras) e Leandro Kastiphas (The Cross e Ex-Mystifeir).
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