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Foto do escritorIvan Motosserra Pamponet

A música irlandesa


Montagem feita em cima de Image by pikisuperstar on Freepik


Dia 17/03, última sexta-feira, os irlandeses dentro e fora da sua diáspora comemoram uma das festas mais divertidas que existem, o Saint Patrick’s Day ou Dia de São Patrício. Assim como São João e outras festas similares, não precisa ser católico ou de nenhuma religião para participar da parte mundana da celebração. Essa festa se tornou famosa aqui no Brasil nos últimos anos devido um processo lento e gradual da incorporação de elementos de culturas presentes na sociedade dos EUA através de filmes, séries, música e etc. Basicamente, é uma festa popular similar ao carnaval em que você brinca e bebe com seus amigos vestido de verde. Para você ter uma ideia, esse dia é o único dia permitido em muitas cidades da Irlanda, EUA, Canadá e Austrália que se pode beber na rua e eles até pintam os rios de verde.


The Dubliners & The Pogues – Irish Rover


Por ser um grande estudioso de História desde a adolescência, sempre nutri uma admiração por muitas culturas. Na época, duas que admirava muito eram a celta irlandesa e escocesa, principalmente por seu processo de opressão e revolta contra tiranos. Por exemplo: Eduardo I da Inglaterra foi o primeiro monarca inglês a expulsar os judeus em 1290. Como também invadiu a Escócia, Irlanda, Gales e a França, chegando a ganhar a alcunha de “O Martelo dos Escoceses”. Então, esse processo histórico cativou, entre os países da Europa, o meu apreço. Foi aí que eu descobri as Irish Drinking Song e o Celtic Punk e me apaixonei perdidamente por esse universo musical com temáticas divindades entre beber como se fosse Purim, lamentar por alguma mulher ou combater os ingleses e ser leal aos seus amigos. Contudo, eu sempre fiquei muito frustrado que todas as vezes que se faziam uma festa com essa temática aqui, era só uma festa com chopp e chapéus genéricos de leprechaun (duende irlandês) com músicas nada a ver com nada como Beatles, anos 80s, Pop e Forró. Quando muito, é oferecido um chopp verde. Então, em 2020, eu e um grande amigo meu decidimos fazer a nossa festa com a nossa banda tocando as músicas tradicionais (Irish Drinking Songs) e alguns Celtic Punk dentro da nossa roupagem da proposta da melhor e mais autêntica festa de St. Patrick que já houve por essas bandas.


The Dubliners – Nancy Whiskey


Cheguei a ouvir histórias de que São Patrício perseguia os judeus, porém isso não faz muito sentido quando analisamos as datas. Supostamente ele teria nascido na região sul de Gales no fim do controle romano da Britânia entre o fim do século IV e o começo do século V e vendido como escravo na Irlanda. Mas os primeiros registros sobre judeus no território irlandês são de 1079. E pesquisando na internet, vi uma teoria que o próprio padroeiro da Irlanda poderia ser um judeu cristianizado, o que também não acredito nem um pouco. Mas fiquei muito contente quando achei dados de que os judeus aproveitavam que o Purim ocorre na mesma época e festejavam juntos. E mesmo tendo uma população judaica pequena, Dublin já teve um prefeito judeu, o IRA já teve dois notórios membros judeus e a constituição da Irlanda garante proteção aos judeus desde 1937, lembrando que sua independência do Reino Unido veio em 1919. Então, sempre que me perguntam porque um judeu está comemorando essa festa, eu respondo “pela música, bebida e admiração, igual ao São João”. Bem parecido de quando meus amigos de fora da comunidade se empolgam para beber comigo no Purim.


The Dubliners é sem dúvida a banda mais importante da música tradicional irlandesa com clássicos de domínio público e músicas autorais também. Capitaneada pelo grande Ronnie Drew, a banda começou em 1962 e contava com Luke Kelly, Ciarán Bourke e Barney McKenna e se apresentavam regularmente no O’Donoghue’s Pub em Dublin, capital da Irlanda. Mas foi no Festival de Edimburgo, Escócia, em 1963 que a banda conseguiu notoriedade ao aparecer em um programa da BBC e ganhar seu primeiro contrato. Nessa mesma época, gravaram seus primeiros dois Singles de versões de músicas tradicionais “Rocky Road to Dublin” e “The Wild Rover”, dois sucessos que colocariam esse estilo na popularidade e, futuramente, ajudaria a forjar o Celtic Punk. E aqui, uma bela música sobre ficar bêbado sete noites da semana e não saber se sua esposa está te enganando ou não.


The Dubliners (Ronnie Drew) – Seven Drunken Nights


Ronnie Drew aprendeu a tocar violão através do flamenco quando morou na Espanha ainda jovem. Ele deixou a banda em 1974 para passar mais tempo com sua família e foi substituído por Jim McCann. Ele voltou ao The Dubliners cinco anos depois, mas deixou o grupo novamente em 1995. Após sua morte, Paddy Reilly assumiu o lugar de Drew em 1995. Algumas das contribuições mais significativas de Drew para a banda são o single de sucesso "Seven Drunken Nights", sua versão de "Finnegan's Wake" e "McAlpine's Fusiliers".


Luke Kelly era mais melódico do que Drew e preferia tocar banjo de cinco cordas. Kelly cantou muitas versões definitivas de canções tradicionais como "The Black Velvet Band", "Whiskey in the Jar", "Home Boys Home"; mas também "The Town I Loved So Well" de Phil Coulter, "Dirty Old Town" de Ewan MacColl, "The Wild Rover" e "Raglan Road", escrita pelo famoso poeta irlandês Patrick Kavanagh. Em 1980, Luke Kelly foi diagnosticado com um tumor cerebral. Ocasionalmente, Kelly ficava muito doente para cantar, embora às vezes pudesse se juntar à banda para algumas músicas. Durante uma turnê na Alemanha, ele desmaiou no palco. Quando Kelly estava muito doente para tocar, ele foi substituído por Seán Cannon. Ele continuou a fazer turnês com a banda até dois meses antes de sua morte. Kelly morreu em 30 de janeiro de 1984. Um dos últimos shows em que participou foi gravado e lançado: Live in Carré, gravado em Amsterdã, Holanda, lançado em 1983. Em novembro de 2004, o conselho da cidade de Dublin votou por unanimidade para erguer um bronze estátua de Luke Kelly.


Ciarán Bourke era cantor, mas também tocava violão e flauta. Ele cantou muitas canções em irlandês como "Peggy Lettermore" e "Preab san Ól". Em 1974, ele desmaiou no palco após sofrer um AVC. Uma segunda hemorragia o deixou paralisado do lado esquerdo. Bourke morreu em 1988. A banda não o substituiu oficialmente até sua morte.


John Sheahan e Bobby Lynch se juntaram à banda em 1964. Eles tocavam durante o intervalo nos shows e geralmente permaneciam na segunda metade do show. Quando Luke Kelly se mudou para a Inglaterra em 1964, Lynch foi contratado como seu substituto temporário. Quando Kelly voltou em 1965, Lynch deixou a banda e Sheahan ficou. De acordo com Sheahan, ele nunca foi (e ainda não foi) oficialmente convidado a se juntar à banda. Sheahan é o único membro que teve uma educação musical.


The Dubliners (Luke Kelly) – Dirty Old Town

Paddy Reilly nunca será um Ronnie Drew e acho que nunca nem se propôs para isso, de fato. Mas, sem sombra de dúvidas, é um grande cantor que sabe usar sua voz com emoção. E uma das mais belas canções irlandesas, inclusive que canto no show. Ela é tida como o hino não oficial de Dublin e fala sobre uma linda e doce vendedora de peixes e mexilhões chamada Molly Malone. Pobre com seu carrinho sendo empurrado pelas ruas e becos assim como seus pais faziam antes dela, morre de febre e se torna um fantasma pelas ruas de Dublin. Em 1988 até ergueram uma estátua para ela.


The Dubliners (Paggy Reilly) – Molly Malone

Clancy Brothers é outro grupo tão importante quanto The Dubliners e que também ajudou a recriar a música tradicional irlandesa assim como dar base para o novo Folk. Inclusive, muito antes de me apaixonar por essas músicas, conheci essa banda através do show de comemoração dos trinta anos de carreira de Bob Dylan que contava, entre muitas outras, com a participação dos Clancy Brothers. Oficialmente a banda foi fundada em 1956 e contava os irmãos Patrick, Tom e Liam Clancy juntos ao grande Tommy Makem, mas que saiu em 1969 e substituído pelo outro irmão Clancy, Bobby.


A música escolhida é uma música tradicional feita por fenianos (um patriota pró independência do século XIX e começo do XX) que se encontravam na Austrália, muito possivelmente presos políticos. Essa é uma das minhas favoritas.


Clancy Brothers (Tommy Makem) – Wild Rover


The Irish Rovers é uma banda da mesma linha, porém formada por irlandeses no Canadá em 1963. Na verdade, a banda tem gente da Irlanda do Norte, como George Millar, da Irlanda, como Gerry O’Connor e canadense de origem irlandesa como Geoffrey. E a música que eu escolho representa bem a união, a quebra de barreiras e a luta pela independência. “The Orange and the Green” fala sobre a união entre católicos (verde/República da Irlanda) e protestantes (laranja/Irlanda do Norte). A própria música, em ritmo de “The Rising of the Moon” (assim como “The Wearing of the Green”), fala sobre ser filho de pai protestante do norte e de mãe católica do interior. Essa divisão começa no século XIII com a aliança entre irlandeses e escoceses contra a Inglaterra de Eduardo I, então o irmão do rei escocês Robert Bruce, Richard, envia muitos escoceses para sitiar o castelo de Ulster. Tempos depois, o clã McDonald envia mercenários para ajudar os irlandeses em trocas de terras no norte. Então, no século XVII a Inglaterra envia vários colonos protestantes para as cidades do norte e restringem o poder político e social dos católicos, assim como os persegue. Tantos que além de não poderem participar da vida política, não podiam ir para cidades protestantes. A cor verde representa os católicos por ser a cor da Irlanda e do trevo, que foi usado por São Patrício para evangelizar e, segundo a lenda, tinha um manto verde. A cor laranja vem de William de Orange III, o nobre holandês que “defendeu” os protestantes britânicos do rei James II, que havia voltado a ser católico e começou uma guerra civil religiosa.


The Irish Rovers – The Orange and the Green

The Wolfe Tones é uma banda de música tradicional irlandesa, porém eles falam menos de bebida (Irish Drinking Song) e focam mais no Irish Rebel Music. A banda começou em 1963 e contava com Derek Warfield, grande historiador e cantor. O nome vem de Theobald Wolfe Tone, um dos líderes da rebelião irlandesa de 1798.]


The Wolfe Tones – God Save Ireland


E para quem acha que não vai ter um cantor judeu, saiba que Lark Knopfler, ex-cantor e guitarrista de Dire Straits, que é judeu e escocês, filho de mãe escocesa e pai judeu húngaro. Ele deixou um pouco de lado o Rock com Country e decidiu fazer um Celtic Folk.


Mark Knopfler – Father and Son




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