Nessa parashá, Moisés, um pouco antes de sua morte, faz uma retomada de como foram os últimos 40 anos no deserto. Reprovando e dando maior foco nos erros ao longo dessa longa jornada, desde os anteriores ao que levou essa geração a vaguear pelo deserto até os erros mais recentes do povo naquele tempo.
Imagem criada por IA para este texto Mas Moisés não faz isso para envergonhar o povo com seus erros, pelo contrário, ele está exercendo a Mitzvá Tochechá. Ou seja, ele está repreendendo com o objetivo da melhora do povo, relembrando os erros do passado para corrigi-los e não repeti-los ao longo dessa jornada que se iniciava: a entrada de uma nova geração para a terra de Israel, livres dos erros de uma geração de guerra, mas que nunca os esquecerá. Ele prepara essa geração, que construirá esse novo capítulo de nosso povo, para que façam o mesmo que ele, que seria ensinar com suas próprias falhas. Não estamos isentos de erros, mas devemos aprender com eles e passar esses aprendizados, fazendo com que esses erros não sejam apagados de nossa história.
Certa vez, uma professora minha disse que devemos digerir nossas memórias ruins. Sejam essas memórias provenientes de erros nossos ou de outros, devemos fazer delas lições, não fonte de martírio. Da mesma forma que fazemos com o Chametz na manhã do primeiro dia de Pessach, a professora, a turma e eu queimamos papéis em que havíamos escrito memórias ruins e, assim como o fogo queima o papel e o transforma em cinzas que serviram de adubo para uma árvore naquele dia, devemos transformar os erros em adubo para os nossos acertos como povo. Todos os erros de nosso povo estão documentados, pois as falhas deles é o que nos mantêm unidos até os dias atuais. Aprendemos que devemos tratar uns aos outros com fraternidade e como isso não se resume apenas como um judeu trata o outro, mas, também, como tratamos os gentios; aprendemos a passar a tradição, a sermos flexíveis quando devemos ser, entre outras coisas.
Essa parashá também fala muito da coletividade com a qual seguimos como povo. Quando um erro é cometido, esse erro é coletivo, ao pensar de forma muito individualista estamos caminhando para uma queda que levará a todos. Quando um cai, todos nós sentimos o impacto. Isso é assustador e reconfortante ao mesmo tempo. Saber que eu não estou sozinha no mundo em que nos encontramos é uma luz no final do túnel, e é uma grande responsabilidade que carrego. Tem um conceito chamado polifonia, que é o fato de que quando um fala, carrega as vozes de todos os que vieram antes, concordando ou não com essas outras vozes. Quando falo carrego as vozes de vocês e de muitos outros. Carrego os erros e acertos de cada um. Não tem como fugir disso. Mas talvez não seja algo de que devemos fugir. Moisés carrega a voz de todos aqueles que o acompanhou em sua Tochechá, e fez isso de forma amorosa e firme para que as futuras vozes também carregassem e executassem essa Mitzvá.
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