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Foto do escritorRoberto Camara Jr.

Hélène Cazès-Benatar, a verdadeira heroína de Casablanca

Em um cenário que poderia ser tirado diretamente do filme clássico "Casablanca", uma mulher marroquina-israelense, Hélène Cazès-Benatar, desempenhou um papel heroico durante o Holocausto, salvando milhares de refugiados judeus. Sua história lembra a trama emocionante do filme, onde um herói improvável emerge em meio ao caos da guerra para oferecer refúgio e esperança. No entanto, ao contrário dos personagens fictícios de Casablanca, o nome de Hélène Cazès-Benatar não é amplamente conhecido, e sua história de coragem e sacrifício permaneceu subestimada ao longo dos anos. Mas agora, graças aos esforços de pesquisadores, sua vida e seu trabalho estão sendo trazidos à luz, destacando a importância de suas contribuições para a comunidade judaica e para a história em geral.


Hélène Cazès-Benatar nos arquivos da JDC (Reprodução)

Hélène Cazès-Benatar, uma advogada marroquina judia, se destacou como uma verdadeira heroína durante a Segunda Guerra Mundial ao salvar milhares de refugiados europeus do Holocausto. Apesar de seu trabalho notável, seu nome não é amplamente conhecido e sua história permaneceu subestimada ao longo dos anos. Porém, Yafa Benaya, uma pesquisadora dedicada à história das mulheres judias, decidiu trazer à luz a vida dessa mulher extraordinária.


Hélène nasceu em 1898, em Tânger, e desde cedo mostrou-se uma mulher determinada e destemida. Em 1917, ela e sua família se mudaram para Casablanca, onde ela se tornou uma das primeiras jovens judias a receber um diploma de ensino médio. Mais tarde, aos 22 anos, casou-se com Moses Benatar, um empresário e ativista público, mas manteve seu sobrenome de solteira, uma escolha incomum para a época.


Apesar de ser mãe de três filhos, Hélène estava determinada a prosseguir com sua educação e estudou direito na Universidade de Bordeaux, na França. Em 1939, ela sofreu a perda de seu marido, o que a afetou profundamente. No entanto, ela não permitiu que isso a detivesse. Continuou a trabalhar como advogada, cuidar de seus filhos e se envolver em atividades sociais voltadas para o bem-estar da sociedade marroquina e da comunidade judaica.


Foi por volta de 1940 que a notável jornada de ativismo de Hélène começou. Milhares de refugiados começaram a chegar às costas de Casablanca, buscando desesperadamente abrigo e proteção. Certo dia, enquanto trabalhava como voluntária da Cruz Vermelha nas praias, ela recebeu uma carta de refugiados que estavam presos em um navio offshore. Sem hesitar, ela respondeu ao apelo e decidiu dedicar-se inteiramente à missão de resgatar e ajudar esses refugiados.


Hélène se envolveu em todos os detalhes, garantindo que os refugiados tivessem comida, roupas, cuidados médicos, trabalho e um lugar para morar. Ela transformou o salão do Kol Israel Chaverim em Casablanca em um abrigo para os refugiados e mobilizou amigos e membros da comunidade para que também abrissem suas portas para eles.


No entanto, Hélène percebeu que o desafio era imenso e que ajuda local e pessoal não seriam suficientes para lidar com a situação. Ela precisava entrar no âmbito organizacional e político, que era dominado por homens na época. Assim, ela fundou um comitê de ajuda aos refugiados estrangeiros, que se tornou a organização guarda-chuva para lidar com todas as questões relacionadas aos refugiados. Esse comitê não apenas fornecia assistência básica, mas também arrecadava fundos, fornecia defesa jurídica e estabelecia parcerias com organizações judaicas internacionais.


Além disso, Hélène trabalhou incansavelmente para libertar os refugiados que estavam detidos em campos de trabalho na fronteira entre Marrocos e Argélia, onde eram mantidos em condições adversas. Ela ajudou a obter vistos de imigração para os Estados Unidos ou América do Sul e até mesmo contrabandeou aqueles que conseguiam escapar para a Martinica, evitando que fossem transferidos para campos de internamento. Para aqueles que permaneceram em Marrocos, ela se esforçou para integrá-los ao trabalho e evitar sua expulsão.


Hélène estabeleceu uma conexão com o Comitê Conjunto de Distribuição Judaica (JDC) em Nova York, o que fortaleceu sua ajuda aos refugiados. Ela se tornou a representante do JDC em Marrocos e na região do Magrebe, além de ser a conselheira jurídica da organização em questões relacionadas aos refugiados. Sua posição privilegiada e suas conexões permitiram que ela estabelecesse parcerias em diferentes esferas, tanto formais quanto informais, políticas e civis.


Graças aos seus esforços incansáveis e ao trabalho conjunto de outros ativistas recrutados, cerca de 60.000 refugiados foram salvos até novembro de 1942, quando as forças americanas desembarcaram nas costas de Marrocos e Argélia, libertando-os do domínio de Vichy.


Após a guerra, Hélène continuou seu ativismo em prol da comunidade judaica. Ela viajou para os Estados Unidos em 1953 para fazer uma turnê de palestras e arrecadação de fundos em benefício do Estado de Israel. Em 1954, ela retornou ao seu trabalho como advogada e, ao longo dos anos, dividiu seu tempo entre Casablanca e Paris. Em 1962, ela se estabeleceu permanentemente na França, onde também foi ativa na comunidade judaica local. Ela cofundou a Associação de Judeus Marroquinos em Paris e serviu como sua presidente.


Hélène Cazès-Benatar deixou um legado significativo como uma pioneira e defensora incansável dos direitos dos refugiados e do bem-estar da comunidade judaica. Sua história é um exemplo poderoso de coragem e sua contribuição para a história deve ser celebrada e lembrada como um exemplo de altruísmo e serviço ao próximo.


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