
Na quarta-feira (27.11) começou um ataque surpresa por forças rebeldes contra o regime do ditador Bashar al Assad. A coordenadora do ataque foi a organização sunita-jihadista Haiat Tahrir a Sham (a Organização de Libertação do Levante), conhecida pelas iniciais HTS. Foi o maior ataque em 4 anos e suas forças avançaram sobre o condado de Alepo e a cidade de Alepo, a segunda maior da Síria com cerca de 2 milhões de habitantes.
O palácio do ditador Assad caiu em mãos dos jihadistas bem como o aeroporto Internacional da cidade e havia o receio de que a indústria de armas químicas também caísse em mãos dos rebeldes.
Alguém pode perguntar o do porque dessa rebelião árabe interna está acontecendo. A região do Oriente Médio é mais complicada do que se imagina. O mundo antissemita e hipócrita pode imaginar que Israel é o problema. Se o mundo árabe e muçulmano se aliasse a Israel, em todos os seus países viveriam melhor e com mais abundância. Veja o exemplo dos Emirados Árabes Unidos e até da Arabia Saudita que busca aproximação.
A complexidade do mundo árabe pode se notar nos envolvidos nesta guerra interna na Síria. Este país de maioria sunita, é governado desde 1970 pela minoria alauíta (segmento dos xiitas). Agora, que Israel conseguiu derrotar a Hizballah no Líbano e a Hamas na Faixa de Gaza, causando-lhes grandes perdas, os rebeldes acharam que é boa ocasião de se rebelar aproveitando esta fragilidade. O Irã grande protetor do regime do Assad também apanhou de Israel e com a perda (provisoriamente?) de suas
proxies, os rebeldes acharam boa oportunidade de aproveitar esta fraqueza e avançar.
Em apenas 3 dias conquistaram uma enorme área que inclui centenas de aldeias e cidades, inclusive a Alepo e na quinta-feira (5) foi anunciado que também Hama, a quarta maior cidade do país.
Quem é quem e quem é contra. O regime sírio tem o apoio do Irã, cujo interesse além da expansão de sua influência, usou a Síria como um corredor para armar a Hizballah no Líbano A Rússia que tem 2 bases, em Tartus e Latakia que são os únicos no Mar Mediterrâneo, tem muito interesse em manter o regime atual. É A Força Aérea Russa junto com a da Síria que atacam os rebeldes, mas não conseguem deter seu avanço. Os russos também diminuíram seu contingente militar na Síria devido a guerra com a Ucrânia. Outro elemento que tem interesse ambíguo na Síria é o presidente turco Erdogan. Este tentou aproximação com Assad contra os curdos no norte da Síria, para derrotar a PKK. Só que o ditador sírio exigiu que as tropas turcas que invadiram a Turquia, nas áreas controlados pelos curdos se retirem. Até agora não se retiraram e o mundo está quieto diante a matança e a ocupação turca. Ao mesmo tempo os dois líderes tem interesse em não permitir a fundação de um Estado Curdo que se estenda desde as áreas no Iraque, passando por Irã, Síria e Turquia. A Turquia também espera que se os rebeldes forem derrotados, os milhões de refugiados sírios, agora vivendo na Turquia, retornem ao seu país.
O Comandante das Forças Armadas iranianas e o Ministro do Exterior iraniano chamaram a Rússia e o Iraque juntar se ao Irã para salvar o regime do Assad. O chefe do Estado Maior iraniano vê conspiração americano-sionista, com o avanço dos rebeldes justo quando Israel assinou o cessar fogo com o Líbano. Não importa o que acontece na região ou no mundo há elementos que logo acusam os EUA e os Sionistas (i.e. Israel).
Por outro lado, estão, os Estados Unidos da América, que ajuda a manter a estabilidade no país, após derrotar as forças da Al Qaeda, Daesh. As forças americanas concentram se junto as fronteiras da Síria com o Iraque e a Jordânia e não permitem que forças iranianas conquistem os poços petrolíferos desta região.
Israel não intervêm nesta guerra civil interna. Só age quando o Serviço de Inteligência detecta que o Irã quer se aproveitar dos acontecimentos e enviar armas a Hizballah. Um elemento da segurança disse que um dos conselheiros mais próximos de Assad se encontrou na Europa com alguém pedindo ajuda militar de Israel. A resposta israelense foi de que não intervém. Ao mesmo tempo exigiu a retirada de tropas iranianas da Síria.
Em Israel há elementos que temem a queda do Assad, que já é conhecido e em relação a Israel é relativamente moderado. Até na guerra Espadas de Ferro não houve nenhum ataque da Síria contra Israel. Prefeririam Assad a grupo(s) jihadistas junto a sua fronteira. Outra fronteira que incomoda Israel é a com a Jordânia, que é a mais comprida. Por lá agora, o Irã tenta armar organizações como a Hamas e outras nos territórios ocupados para se levantar contra o governo israelense.
Alguém pensou que é fácil entender o Oriente Médio ? Não é não. Mas quando árabes se matam, e na guerra civil da Síria morreram mais de 500.000 pessoas e milhões de refugiados dentro e fora do país, a mídia mundial não dedica tanta atenção quanto a qualquer conflito com Israel. São duas medidas e dois pesos.
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