Lenny Kravitz – Reprodução Youtube
Continuarei essa pequena saga da história do nosso povo com a música nos tempos modernos. Futuramente escreverei sobre música tradicional judaica como Klezmer e música israelense. Por enquanto eu falarei dos nossos irmãos de destaque mais internacional e mais atual (mas não necessariamente). Claro que não falarei de todos e alguns não irei mencionar por já ter feito isso em outros textos, porém um ou outro podem se repetir. Mesmo tendo uma certa limitação em relação a gêneros mais atuais, tentarei ser diverso.
Barry Manilow nasceu em Nova Iorque de pai irlandês-americano e mãe judia de origem russa. Barry trocou Pincus, sobrenome de seu pai, pelo sobrenome do seu padrasto que o criou. Talvez ele não seja o músico mais lembrado ou um grande sucesso em críticas, mas o cara era uma máquina de emplacar sucessos como “Mandy” ou “Copacabana”. Ele teve uma carreira de cantor, compositor e arranjador tão promissora que conseguiu 13 discos de platina e 6 de platina múltipla, chegando a ser chamado de “o próximo” por Frank Sinatra (um dos maiores cantores de todos os tempos e um dos meus favoritos).
Barry Manilow – Can’t Smile Without You
Espero não ser mal interpretado, mas Paula Abdul é uma grande mistura de elementos variados não só na música. Abdul é um sobrenome relativamente comum nas comunidades árabes, otomanas e islâmicas, mas no caso dela é seu sobrenome judeu. Seu pai nasceu na Síria e cresceu no Brasil antes de se mudar para Califórnia. Paula Abdul sempre teve uma aparência e um jeito que deixam pessoas mais distraídas ou leigas na dúvida se sua origem era do Oriente Médio ou América Latina. Sua mãe era pianista de concertos profissionais e a ensinou sobre música. Logo, Paula Abdul começou desde cedo a trajetória para se tornar a cantora, atriz, dançarina e coreografa mundialmente conhecida que é hoje. Com certeza quem curtiu os anos 80s e 90s tem memórias divertidas com ela.
Paula Abdul – Apposites Attract
Lenny Kravitz é cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor e ator, mas também é judeu (pelo menos meio judeu, mas eu já chego lá). Kravitz nasceu em Nova Iorque filho de Sy Kravitz, um produtor de TV judeu, e Roxie Roker, uma atriz negra e cristã famosa por seu papel na série “The Jeffersons”. Acontece que os pais de Lenny eram mergulhados nas artes até o pescoço, mas não eram religiosos. Lenny nunca foi um cara religioso, mas acabou se aproximando do cristianismo por causa, indiretamente, de sua mãe e pela música ainda na adolescência, mas ele mesmo diz que “também sou judeu, é algo que faz parte de mim”. Assim como sempre se enxergou como “sou metade judeu, sou metade negro, vivo entre os dois”, mas não que uma coisa anule a outra.
Lenny Kravitz nunca foi um artista que me apeteceu, mas jamais poderia negar seu talento ou quão ricas são suas raízes musicais. É aquela coisa que já falei antes sobre não gostar muito de Pop, principalmente após a década de 1970s. Porém as claras influências de Rock, Blues, Jazz, R&B, Soul, Reggae, Hard Rock, Funk, Disco e deve ter mais coisas. Além disso, ele também tinha muito de Gospel, Opera e música erudita em geral na sua formação como apreciador de música, uma etapa importante para qualquer músico.
Eu escolhi a minha música favorita dele, pois eu realmente a acho formidável, mesmo não gostando tanto assim da carreira desse grande artista. Ela é um Disco-Soul-R&B meio Funk e sem deixar de ser Pop. Um arranjo musical meio Barry White com Curtis Mayfield. Meio romântico e meio sensual.
Lenny Kravitz – It Ain’t Over ‘Til It’s Over
Já falei aqui antes como uma das minhas grandes paixões musicais é a música jamaicana, principalmente o Ska. O Ska teve três fazes principais sendo sua primeira caracterizada por ser genuinamente jamaicano sendo o equivalente ao Rock e sendo a principal origem do Reggae junto ao Rocksteady. Sua segunda fase surge na Inglaterra e é chamada de 2Tone pela mistura do preto e do branco (falando de pessoas e das roupas também), de Ska e Rock, Jamaica e Inglaterra e de Punk e Skinhead (os Skinheads originais não são nazistas e a sua grande maioria também não são, podendo haver negros, brancos, judeus, latinos, esquerda, direita, socialistas, comunistas, anarquistas, apolíticos, como também fascistas e nazistas. A origem do movimento vem da união entre brancos ingleses e negros jamaicanos da classe trabalhadora, misturando os Rudy Boys jamaicanos com os Mods britânicos nos anos 60s. Inicialmente apolítico, classe trabalhadora e multiétnico eram elementos comuns desses amantes de cerveja, futebol e música jamaicana. Grupos desse movimento aderem ao fascismo nos anos 70s e criam os Boneheads/Carecas, logo os apolíticos antifascistas se posicionam e criam o SHARP, posteriormente a esquerda se une aos anarquistas e criam o RASH já nos anos 80s, assim como os nazistas criam os White Power no fim dessa década. Todos esses são derivados do movimento Oi! que inclui parte do movimento Punk, diferentemente do movimento Tradicional que se baseia na música e cultura jamaicana-britânica sem influência Punk.). A sua terceira fase é o Ska Punk nascido na Califórnia com bastante bom humor.
O 2Tone também é conhecido como parte importante do movimento Ska Revival que surgiu na Inglaterra na década de 70s trazendo bandas jamaicanas importantes dos anos 50s e 60s, assim como trazendo novas bandas e novas influências estéticas e musicais. Era bem comum, porém não era uma regra, ter membros negros e brancos, principalmente jamaicanos, pois uma das principais características era essa identidade diversa e multirracial. Como já falei antes The Specials, a maior banda dessa fase, foi extremamente influente para música britânica e mundial e inclusive fazendo turnê junto a Amy Winehouse. Mas hoje eu vou falar de outra banda muito importante para esse gênero, talvez a segunda mais importante, The Selecters, cuja trajetória foi curta, mas suficiente para marcar a música (1979-1981). Eles até compartilharam o mesmo baterista por um tempo, John Bradbury. Contudo, o destaque desse da vez é Pauline Black, nascida Belinda Magnus, filha de mão inglesa judia com pai nigeriano. Ela era a própria sintetização do conceito de 2Tone, uma cantora maravilhosa multirracial de um movimento multirracial e ainda é judia. Além de uma grande cantora carismática, Pauline Black é atriz e autora de estudos negros.
The Selecters – Too Much Pressure
Misturando Hard Rock com Rock Psicodélico, um pouco de Folk e um tantinho de safadeza, temos uma das primeiras bandas de Glam Rock do mundo o T. Rex. Formada em 1967, inicialmente puxava mais tanto para o Rock Psicodélico quanto para o Folk Psicodélico, mas com o passar o tempo, elementos mais “bluseiros” foram sendo incorporado. Junto a isso, começou-se a explorar mais elementos estéticos mais estravagantes e chamativos, até teatrais, como roupas espalhafatosas como de super-heróis, cavaleiros espaciais ou simplesmente malucos bem-vestidos, como também maquiagens bem marcantes. Inegável também que o avançar da década de 70s trouxe influências de Soul, Funk, Gospel, R&B e Disco.
Se essa banda tinha um líder, esse era Marc Bolan (Mark Feld), um guitarrista, cantor e compositor inglês que também tocou baixo e teclado em gravações de sua banda. Marc Bolan era judeu de origem da Rússia e Polônia por parte de pai e mãe inglesa. Quando criança, sua grande inspiração era Cliff Richards, o Elvis inglês. Ao crescer, se apaixonou musicalmente pelo Folk de Bob Dylan e Donovan, assim como pelo Rock do The Who (The Who pertenciam originalmente ao movimento Mods que deu a origem britânica do movimento skinhead junto aos Rudy Boy jamaicanos nos anos 1960. Os Mods eram caracterizados por roupinhas bonitas, pomposas reformadas de décadas passadas, terninhos e cabelinhos lambidos. Tipicamente inglês e inimigo do movimento Rocker que era caracterizado por uma americanização, jaquetas de couro, calças jeans, botas, cabelos grandes ou topetes.). Em 1967 ele muda a música para sempre com o nascimento do T. Rex, quando tinha apenas 19 anos. Infelizmente Marc morreu prematuramente aos 29 anos em 1977 em um acidente de carro. Ironicamente ele, mesmo falando sobre carros em várias de suas canções, não sabia dirigir e morreu em um Mini Cooper que nem estava tão veloz assim.
T. Rex – Dandy In The Underworld
Sem dúvidas The Clash foi uma das principais bandas do Punk mundial, e podemos dizer que foi uma das grandes pioneiras do gênero. Foi uma das primeiras? Não exatamente, mas seu primeiro disco é de 1977 e esse ano é um marco do Punk. Podemos até dizer que o “Punk Clássico” seria o Punk 77 (não exatamente, mas é por aí). Também podemos dizer que The Clash, por mais até que crime fosse um assunto recorrente nas músicas, era das bandas menos raivosas no som. Tudo bem que a capa do seu disco mais famoso “London Calling” é seu baixista Paul Simonon quebrando o seu baixo de raiva após um show (essa é uma das capas mais icônicas), mas não passava uma impressão tão agressiva assim. Talvez pela mistura de bom humor com elementos diversos como música jamaicana.
The Clash teve dois judeus, o guitarrista (que também cantava) Mick Jones entre 1976 e 1983 e Keith Levene que só tocou na banda em 1976 quando estava se formando ainda. Mas ainda não para por aí, John Graham Mellor, conhecido como como o guitarrista e principal vocalista do The Clash Joe Strummer. John Strummer nasceu na Turquia de pai escocês e mãe inglesa, mas seu pai era neto de um armênio com uma judia alemã. Já Michael Geoffrey Jones nasceu em Londres de um pai galês e uma mãe judia russa de sobrenome Zegansky. A família de sua mãe foi vítima de pogroms na Rússia czarista. E foi justamente sua avó que criou esse brilhante garoto que nos daria uma das melhores bandas de Punk.
The Clash – Rock The Casbah
O melhor livro que eu li sobre música -no sentido de ser prazeroso de ler e não de conteúdo, mas ainda sim rico em conteúdo- foi “Mate-me, por favor” dos jornalistas Gillian McCain e Legs McNeil. Basicamente o livro é feito todo em entrevistas aos principais artistas musicais da que viria a ser a cena Punk do final de 60s até 80s. O primeiro volume foca mais na cena Protopunk alternativa surgida no fim da década de 60s. Não se mostra as perguntas que são feitas, mas pelo contexto das respostas, se consegue ter uma noção do assunto. E a compilação sequenciada das respostas dentro de um mesmo contexto, criam um filme na sua cabeça com diversos pontos de vistas e detalhes diferentes. Acaba criando uma falsa sensação de intimidade, de conhecimento pessoal e envolvimento como se fosse algo que você viveu ou foi te contato por um amigo ou conhecido. Do ponto de vista histórico, é extremamente rico pois ele não é baseado em análises de fatos históricos pesquisados em documentos, mas sim na transcrição da história oral de quem foi agente ativo e passivo direto, sendo construído e construindo a cena. Por exemplo, eu passei a achar Jim Morrison um grande idiota após ler tantos relatos negativos sobre a pessoa dele.
Com um apadrinhamento artístico de Andy Warhol, dono de um enorme capital social/cultural, fundador do estúdio de arte The Factory e um dos maiores nomes do Pop Art, The Velvet Underground nasce em Nova Iorque em 1964 sendo o suprassumo da avant-garde artística na música experimental e alternativa. Eles nunca foram Punk, mas eles ajudaram a pavimentar a estrada que levou ao Punk assim como New Wave. Lou Reed, guitarrista, vocalista, compósito e líder, nasceu no Beth-El Hospital no Brooklyn de uma família de judeus russos cujo seu avô mudou o nome Rabinowitz para Reed. Pelo que o livro fala, Reed veio de uma família de classe média com aquela típica mãe judia superprotetora. Mesmo tendo condições um pouco melhor que dos seus amigos, Reed tinha muito problemas domésticos por conta de sua mãe que aparentava ter alguns problemas de ordem mental e o próprio Reed que também tinha os seus. Reed chegou a ser internado algumas vezes pela família em hospitais psiquiátricos em momentos que julgavam estar surtado, também sofria de ataques de pânico e mudanças bruscas de humor. Reed fugiu várias vezes de casa por conta de sua relação familiar conturbar, seu temperamento difícil e aquela rebeldia artística. Ainda adolescente começa dizer que o verdadeiro deus é o Rock and Roll. Assim como começa experimentar as primeiras drogas e ter relações sexuais com homens, pois eram mais fáceis que as namoradas adolescentes deles.
Eu não era fã dele antes de ler o livro e fiquei menos ainda. Claro que não nego enorme importância que tanto ele quanto a banda tiveram para música e artes em geral, mas são poucas músicas que eu gosto e a pessoa dele não me agrada em nada. Um exemplo é a relação dele com Nico, uma cantora alemã que foi incorporada a banda por pedido de Andy Warhol que inicialmente foi tratada com desprezo e arrogância por conta do ciúme que ele tinha dela, no sentido de ser um medo dela roubar a atenção que as pessoas tinham nele que era o “astro da banda”. Depois eles se envolveram musicalmente, ele a tratava bem escondido e mal na frente dos outros. Ele brincou com os sentimentos dela, a deixou confusa e angustiada por conta do seu ego. A verdade é que ela cantava bem melhor que ele. Ela também disse em algum momento no estúdio que “nunca mais me apaixono por um judeu” por causa dele. Aí eu acho que ele exagerou e o povo não tem culpa das atitudes de uma pessoa.
Lou Reed – Walk On The Wild Side
Em 1972 surge uma das bandas mais emblemáticas do Hard/Glam Rock e Heavy Metal com um pezinho no Pop Rock Van Halen. O nome é devido seus criadores Eddie Van Halen, guitarrista e líder da banda e uma das maiores figuras do Rock (ele foi um dos maiores guitarristas do seu tempo e tenho muita coisa pra falar dele, mas ele não é o foco), Alex Van Halen (irmão de Eddie) e Wolfgang Van Halen (na verdade ele entrou na banda bem depois, já que ele é filho de Eddie). David Lee Roth foi o principal vocalista da banda e o mais marcante. Ele nasceu no estado de Indiana de uma família judia, mas se mudou para Califórnia ainda adolescente. Lee Roth entrou para o Van Halen em 1974 e permaneceu na banda até 1985. Ocasionalmente ele se apresentou algumas vezes com seus antigos companheiros como em 1996 e retornou as atividades quase que regularmente em 2007. Acontece que desde a década de 80s que Eddie passa por alguns problemas envolvendo drogas e seu temperamento complicado. Entre 1985 e 1996 o vocalista da banda foi Sammy Hager que deu um ar mais Heavy Metal para banda. Após 1996, a banda fica praticamente em hiato até 2007 por causa de Eddie e seus problemas que agora também contavam com de saúde como o câncer que teve na língua. A banda não parou de fato, mas ficou bem apagada e menos atuante até voltar com mais energia pós 2007. Então por mais que todos estejam esperando “Jump” do Van Halen, irei colocar uma do próprio David Lee Roth e sua banda que contava com um dos maiores guitarrista de todos os tempos, Steve Vai.
David Lee Roth – Yankee Rose
Gary “Geddy” Lee Weinrib nasceu em Toronto dos sobreviventes do holocausto Moshe Meir “Morris” Weinrib e Malka “Mary” ou “Manya” Rubinstein. Seus pais sobreviveram aos campos de Dachau e Bergen-Belsen que imigraram para o Canadá. Seu apelido de Geddy vem por causa do sotaque acentuado de sua mãe ao tentar pronunciar Gary. Mesmo nascendo de uma família judia e tendo orgulho disso, Geddy sempre foi um “ateu fervoroso”. Também era um aluno estudioso e demonstrou um grande talento musical ainda aos 10 anos ao tocar violão na escola. Ninguém diria que poucos anos depois ele iria montar umas das principais bandas de Rock Progressivo do mundo. Inclusive muitos consideram Neil Peart como um dos maiores bateristas de todos os tempos, mas a verdade é que a banda é um power trio muito talentoso. Tanto talento que eu não vou mentir que eu acho meio chato. Eu lembro quando eu tinha meu podcast chamado Rock30/RockTrinta e quase todo episódio algum ouvinte comentava “faltou Rush”. Ouvi e li tanto isso que baixei a discografia e ouvi todos os discos e todas as músicas e posso falar com certeza que a banda tem até música que eu gosto e eles tocam muito bem, mas a banda é chatinha como a maioria das bandas de Progressivo. Lembro que conheci a banda através de um DVD que meu pai comprou logo quando DVD começou a bombar aqui no Brasil, um ou dois anos depois que ele foi lançado no mercado nacional. Meu pai fez uma lasanha pra comemorar e comprou vários DVDs musicais e um deles era um show do Rush. Eu aprendi a gostar de algumas músicas, mas a que eu escolhi é mais por uma memória nostálgica da infância. A música que eu escolhi, nem é a que eu gosto mais ou acho melhor, mas é uma que era usada pela Globo como parte da vinheta de “McGyver: Profissão Perigo”. E quem, assim como eu, tem boas lembranças de McGyver, não façam como eu, não assistam!
Rush – Tom Sawyer
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