(livro de Bamidbar-Números 30:2-36:13) e Haftará: Jeremias 2:4-28, 3:4, 4:1-2

A Parashat Matot-Massê (porção semanal de nº 42) – este ano são lidas juntas por causa do calendário: é chamada de Mechubarot - é a leitura final do Livro de Números (Bamidbar) e contém profundas lições éticas e espirituais. Ela é composta por duas seções: Matot, que trata dos votos e da guerra contra Midiã, e Massê que narra as jornadas dos israelitas no deserto e estabelece as leis sobre as cidades de refúgio.
Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, 1040-1105) destaca a importância dos votos e juramentos. No versículo 30:3, onde a Torá menciona os votos, Rashi explica que a Torá concede uma grande seriedade aos votos, ressaltando que a palavra de uma pessoa deve ser mantida com a mesma firmeza que uma ordem divina. Isso ensina sobre a santidade da palavra falada e a responsabilidade que cada indivíduo tem de cumprir suas promessas.
Sobre a guerra contra Midiã, Rashi comenta que a vingança contra Midiã foi um ato de justiça divina, pois Midiã havia levado Israel ao pecado através do conselho de Balaão. Rashi destaca a importância de obedecer às ordens divinas e o papel de Pinchas na liderança da batalha, mostrando que o zelo pela santidade é crucial para a liderança espiritual.
Ramban (Rabbi Moshe ben Nachman, Nachmânides, 1194-1270) oferece uma análise mais filosófica e mística das narrativas. Ele comenta sobre as jornadas dos israelitas no deserto, detalhadas em Massê. Ramban vê essas jornadas como uma metáfora para a jornada espiritual de cada pessoa. Ele explica que as 42 paradas dos israelitas representam fases e desafios que todos enfrentam em suas vidas espirituais. Cada parada é uma oportunidade de crescimento e reflexão.
Ramban também aborda as cidades de refúgio (Arei Miklat), destacando a combinação de justiça e misericórdia na lei judaica. Ele explica que as cidades de refúgio são uma maneira de proteger a vida humana enquanto se permite justiça para aqueles que cometeram homicídio involuntário. Isso demonstra o equilíbrio necessário entre compaixão e justiça na sociedade.
Sforno (Rabbi Ovadia ben Jacob Sforno, 1475-1550) é conhecido por seu enfoque racional e ético. Ele comenta sobre a instrução de Moisés às tribos de Rúben e Gade sobre suas terras além do Jordão (Matot, capítulo 32). Sforno explica que a preocupação de Moisés não era apenas política, mas espiritual. Ele queria garantir que essas tribos não se isolassem do restante de Israel, preservando assim a unidade e a identidade espiritual do povo.
Sobre as cidades de refúgio, Sforno ressalta a importância de criar uma sociedade que valorize a vida humana e proporcione mecanismos de arrependimento e retificação. Ele observa que essas leis ajudam a evitar a vingança desmedida e a promover uma justiça mais equilibrada e humana.
Rashi explica detalhadamente as jornadas dos israelitas no deserto. Em Números 33:1-49, onde as paradas dos israelitas são listadas, Rashi comenta que cada lugar mencionado tem um propósito e uma lição a ser aprendida. Ele explica que Eterno ordenou a Moisés que registrasse todas as jornadas para que as futuras gerações entendessem as provações e milagres que os israelitas experimentaram no deserto. Isso serve como um lembrete do cuidado constante de H’Shem por Seu povo e das lições que eles deveriam aprender de suas experiências.
A Parashat Matot-Massê ensina sobre responsabilidade individual, justiça social e a jornada espiritual contínua. As interpretações de Rashi, Ramban e Sforno oferecem uma visão rica e multifacetada da Torá, destacando a importância de cumprir promessas, entender as jornadas da vida como oportunidades de crescimento e criar uma sociedade justa e compassiva.
A Parashat Massê, com suas listas de jornadas e as leis sobre as cidades de refúgio, oferece uma rica tapeçaria de lições espirituais e éticas. Rashi nos lembra da importância de registrar e aprender com nossas jornadas, Ramban nos guia a ver essas jornadas como etapas de crescimento espiritual, e Sforno destaca a importância de justiça equilibrada e a proteção da vida humana.
Esses ensinamentos são profundamente relevantes não apenas no contexto histórico do povo de Israel, mas também na vida contemporânea, oferecendo orientação sobre como viver com integridade, buscar a justiça e crescer espiritualmente. Além disso, nos incentivam a refletir sobre nossas próprias jornadas de vida, a valorizar as lições aprendidas em cada etapa e a buscar um equilíbrio entre justiça e misericórdia em nossas interações com os outros.
Quando concluimos a leitura de cada um dos livros da Torá, é costume a congregação (a nossa inclusive), seguida do leitor, proclamar:
חֲזַק חֲזַק וְנִתְחַזֵּק
CHAZAC CHAZAC VENIT’CHAZEC!
FORÇA! FORÇA! QUE SEJAMOS TODOS FORTALECIDOS!
Shabat Shalom Umevorach
Marcos Wanderley
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