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Chanuká e a música


(Reprodução)


Como já sabido, Eretz Yisrael (Terra de Israel) passou séculos de idas e vindas entre autonomia e dominação estrangeira, com forte opressão ou relativa liberdade. Entre os conquistadores temos: babilônios, persas, assírios, gregos, selêucidas e romanos. Após a morte de Alexandre, o Grande da Macedônia, -responsável pela maior expansão grega e sendo o maior conquistador até então- houve uma fissão interna que culminou na divisão do império de Alexandre e a criação do Império Selêucida. O império de Alexandre ia além da Grécia e se expandia para o oriente onde se concentrava sua maior porção. A cultura helênica (grega) se tornou predominante na maior parte do seu território através da assimilação “espontânea” ou da imposição cultural. O Império Selêucida continuou com a sua lógica de dominação político-militar e cultural, fator crucial para as revoltas judaicas que originaram o Chanuká.


Até 180 antes da era comum, os judeus pagavam impostos e aceitava as autoridades selêucidas em troca de relativa liberdade, podendo manter sua religião e cultura. Porém, Antíoco IV Epifânio ordenou que todos aqueles sob seu domínio abandonassem sua religião e seus costumes. Mas isso não funcionou muito bem entre a maioria dos judeus, pois mesmo parte da elite judaica ter aderido ao helenismo, os judeus mais pobres repudiaram. Durante os próximos anos, várias revoltas populares judaicas ocorreram e todas esmagadas. Em 167 antes da era comum, Antíoco ordenou a construção de um altar para Zeus erguido no grande Tempo (lembrando que era o período do segundo Templo) e sacrificou uma porca, além de proibir a Torá e o judaísmo. Esse foi o ponto culminante para uma grande ofensiva contra os selêucidas, inicialmente liderada pelo sacerdote Matitiahu e posteriormente por seu filho Yehudá HaMakabi (Judas Macabeu ou Judas, o Martelo).


Yehudá lidera um pequeno exército formado, em sua maioria, por camponeses contra seus opressores selêucidas. Porém, podemos dizer que o milagre começa no momento em que os judeus, em menor número e menos preparados, ganham de um exército bem mais poderoso e preparado. Em 164 antes da era comum, os Macabeus libertam Jerusalém e ordenou que o Grande Templo fosse limpo, construindo um novo altar e colocando novos objetos sagrados. Segundo a tradição, só havia óleo para acendimento das lâmpadas para uma noite, porém D’us concedeu o milagre de durar por oito noites. Essa é a origem do Chanuká.


Muito mais do que do que uma festa de fim de ano pautada em comer fritura e acender luzes, Chanuká é uma data sobre resiliência e perseverança, sobre combater injustiças e a intolerância, sobre se unir e lutar pela comunidade. Depois de Pessach, Chanuká é minha festa favorita justamente por sua origem e significado. Muitas vezes chamado de “Natal Judaico”, que é até um bom resumo para quando não se está com paciência de explicar, é uma festa bem difere. O Festival das Luzes começa no dia 25 do mês de Kislev e dura oito noites até 3 de Tevet. E, como nosso calendário é móvel em relação ao calendário gregoriano, é uma data móvel caindo sempre no final de ano e, como esse ano, 2022, caindo próximo ao Natal.


Adam Sandler – Hanukkah Song


Adam Sandler é o tipo de pessoa que dispensa muitas apresentações. Adorado por uns e odiado por outros, Adam Sandler é o típico judeu novaiorquino comediante e deixa isso bem claro na maioria dos seus filmes com personagens que muitas vezes são versões exageradas dele mesmo. Sandler começou fazendo stand-up aos 17 anos e em 1987 já estava fazendo um relativo sucesso. Em 1990 começa a fazer parte da equipe de Saturday Night Live, programa de TV que engloba música e comédia, que o lançou ao estrelato. Desde de os anos 1990, Adam Sandler desempenhou diversas funções artísticas interligadas como comediante, ator, cantor, roteirista, produtor e dublador.


Adam Sandler – Hanukkah Song II


Antes de se tornar um sucesso dos filmes de comédia, Adam Sandler fez um esquete no Saturday Night Live com uma música sobre Chanuká, uma brincadeira com sobre como as antigas músicas já cansadas de Chanuká e sobre a tristeza de ser o único garoto do bairro que não tem uma árvore de Natal e então ele faz uma lista de celebridades que são judias junto com várias piadas e trocadilhos sobre Chanuká.

Acho importante mencionar que, além de vários filmes que ele mostra elementos judaicos em seus personagens como “Zohan” ou “Eu os Declaro Marido e Larry”, existem três filmes que destaco sobre seu lado judaico e como filme: “Os Meyerowitz”, um filme de drama com comédia de uma família judaica novaiorquina que conta com Dustin Hoffman e Ben Stiller no elenco; “Joias Brutas”, filme que julgo ser o melhor de Adam Sandler em uma papel surpreendentemente tenso de um negociador de joias viciado em apostas em um emaranhado de acontecimentos em meio ao Pessach; e “Oito Noites de Loucura”, uma animação bem estilo filme natalino, porém menos infantil que o normal e focado no Chanuká.


Adam Sandler – Hanukkah Song III


The Maccabeats (trocadilho de Macabeus com beat, andamento rítmico, compasso) é um grupo de cantores a cappella de judeus ortodoxos novaiorquinos fundado em 2007. Basicamente são 14 judeus religiosos, nerds e bonzinhos (pelo menos tem aquela carinha de menino criado por vó) que fazem basicamente covers e paródias de sucessos contemporâneos usando letras com temáticas judaicas em a cappella e as vezes usando beatboxing. Eles fizeram relativo sucesso em 2010 quando lançaram o clipCandlelight” baseada na música “Dynamite” de Taio Cruz com o tema de Chanuká.


The Maccabeats – Candlelight


Muitos devem lembrar de Peter, Paul & Mary, icônico trio Folk e ativistas do pacifismo do início dos anos 1960s que fez sucesso com “Puff the Magic Dragon”, mas poucos devem saber que Peter Yarrow era judeu. Inicialmente a música “Light One Candle” foi escrita em apoio ao movimento pacifista de Israel durante a Guerra do Líbano em 1982. No entanto, fica bem claro as referências ao Chanuká ao falar da luta dos antigos Macabeus pela liberdade. Particularmente eu acho essa música bem emocionante e empolgante.


Peter, Paul & Mary – Light One Candle


Thomas Jacob Black, mais conhecido como o ator, comediante, músico, compositor e dublador Jack Black conquistou muitos corações com seu humor, filmes e músicas. Entre suas obras de destaque estão os filmes “Escola de Rock” e “Tenancious D.”, ambos deixam bem claro sua paixão pela música, principalmente o Rock de forma geral, e sua forte veia humorística. O que é pouco sabido é que Jack Black nasceu de uma família de judeus engenheiros naturistas (aquele povo que gosta de ficar pelado).


Jack Black – Oh, Hanukkah


Adam Green é um cantor, artista plástico, compositor e cineasta judeu novaiorquino. Sua música é um Indie com Folk, porém ele é bem conhecido por seu trabalho na linha do “Anti-Folk”, um subgênero surgido nos anos 1980s com um ar mais sarcástico e menos sério que a cena Folk em geral. Em sua música, o herói do Anti-Folk questiona pontos da liturgia do Chanuká como o óleo ter durado oito noites, lamenta ter seu dinheiro levado por um parente num jogo de Sevivon (Dreidel) e outras coisas. A música parece ser uma grande brincadeira sobre o Chanuká.


Adam Green – Dreidels Of Fire


Matisyahu ganhou notoriedade mundial como rapper judeu ortodoxo que atrelava elementos de música jamaicana e pop em suas músicas. Acho que todo judeu já foi questionado por conta de Matisyahu quando algum amigo não judeu vem perguntar se conhece, se gosta ou o que acha dele. Inclusive, nos últimas anos, após um tempo longe dos grandes holofotes midiáticos, Matisyahu reapareceu sem o visual ortodoxo e com um som muito mais pop deixando fãs e o público em geral bem confuso e curioso em relação ao visual e sua religiosidade.


Matisyahu – Miracle


Woody Guthrie, um dos maiores ícones do Folk não era judeu, mas era um grande ativista humanitário de modo em geral. Sua preocupação maior era com os pobres, oprimidos e explorados, sobretudo os trabalhadores. Para além dos trabalhadores, Woody Guthrie já se colocou algumas vezes a respeito da questão judaica e da questão negra, ambas vítimas da discriminação e opressão. Para quem acha que música e política não devem se misturar, Woody Guthrie tinha toda sua obra pautada em questões políticas e sociais ainda antes da indústria musical se firmar. “Hanukkah Dance” foi feita em 1949 inspirada da origem judaica de sua esposa. Décadas depois, sua filha Nora faz parte da banda de Klezmer The Klezmatics.


Woody Guthrie – Hanukkah Dance


O cantor de Folk Rock Don McLean fez muito sucesso com a música “American Pie” em 1971, música regravada diversas vezes até por Madonna. Don McLean é filho de pai de origem escocesa e mãe de origem italiana, nada com comum com os judeus além da discriminação. A música, não é bem uma música de Chanuká, mas sim sobre as idas e vindas, os altos e baixos da vida. Reza a lenda que a inspiração da música “Dreidel” veio de um tempo que o cantor passou em um Kibutz israelense.


Don McLean – Dreidel


Leonard Cohen é um dos maiores nomes judaicos da música em geral, além de poeta e romancista. Como muitos de sua geração, seu foco era o Folk. Assim como outros tantos pelo mundo, Leonard Cohen nem sempre foi preso a sua herança cultural religiosa, tendo se tornado budista por certo período. Mas mesmo nessa fase, levando em conta alguns anos de reclusão, Leonard Cohen não largou suas raízes culturais e sempre manteve a filosofia e cultura judaica vivas em suas músicas. A música que eu escolhi, também não é uma música de Chanuká, mas, na minha interpretação, é claramente uma música com forte influência religiosa quase que uma oração. É uma música linda e emocionante que creio que vale a pena citar nesse especial de Chanuká.


Leonard Cohen – If It Be Your Will



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