Imagem gerada por I.A. para ilustrar este texto.
Depois de uma certa reflexão, decidi que seria melhor começar logo uma “trajetória dos judeus na música” ao invés de continuar falando sobre a trajetória do Rock. Acontece que por mais que eu goste de muitas bandas atuais, não gosto de gêneros surgidos entre 1990 e hoje. Na verdade, existem muitos subgêneros do Punk e Metal que gosto -e muito-, mas também sei que não é o tipo de música apreciada pela maioria das pessoas quem leem aqui. E para começar bem esse novo ano, decidi fazer uma outra série de publicações, mas dessa vez voltada aos músicos judeus. Dividirei em alguns blocos temáticos priorizando bandas e artistas que ainda não falei aqui.
Toto – Africa (Baterista Inglês Simon Phillips que tocou com Toto, Jeff Beck, Garry Moore, Judas Priest, Tears for Fears, The Who, 10cc, Jon Lord, Madness, Pete Townshend, Jon Anderson, Joe Satriani, Asia e outros).
Sammy Davis Jr. foi um grande astro entre 1950 e 1970 tanto na música, quanto na dança, quanto na atuação. Nas artes, sempre com bom humor, era um dos maiores representantes tanto da comunidade negra quanto judaica nos EUA. Nascido em 1925 em Nova Iorque de pai negro e mãe filha de negros cubanos (posteriormente ele teria tentado esconder isso por questões políticas alegando ser filha de porto-riquenhos). Seus pais eram dançarinos de dança de salão e sapateado e realizavam apresentações por todo país, introduzindo o pequeno Sammy ainda criança, aos sete anos, nas apresentações de dança. Quando seus pais se divorciaram -para manter a sua guarda-, seu pai o levava em turnês pelo país e logo se tornou uma celebridade mirim. Ainda criança, ganhou papeis em filmes e já se mostrava um verdadeiro multiartista. Sammy relatou que demorou para entender o que era o preconceito e a discriminação da época, pois seu pai e seu padrinho o protegiam dessa dura realidade e selecionavam suas apresentações numa espécie de “maquiagem” da triste realidade.
Após o serviço militar na Segunda Guerra, Sammy Davis Jr. voltou a se apresentar com a família como também começou a gravar algumas músicas de Blues ainda na década de 1940. No começo da década de 1950, após apresentações poderosas na televisão que conquistaram um enorme público, Sammy Davis Jr foi um dos primeiros negros a ganhar seu próprio programa de televisão voltado para música e dramatizações com músicos reais interpretando situações diversas de forma não humorística. No elenco do seu programa tinha Frances Davis, primeira bailarina negra a se apresentar na opera de Paris; a atriz Ruth Attaway; Jane White; e Frederick O’Neal, fundador do American Negro Theatre (Teatro Negro Americano). Contudo o programa foi cancelado. Nos anos seguintes, Samy Davis participou de filmes e musicais da Broadway, assim como grandes apresentações musicais incluindo apresentações em festivais de Jazz com Sam Cooke. Em 1958, torna-se membro do Rat Pack, liderado por seu amigo Frank Sinatra, que incluía Dean Martin, Joey Bishop e Peter Lawford, cunhado de JFK. O nome foi escolhido por Sinatra após uma noitada de uísque e pôquer que, ao chegar de manhã e ver seus amigos desgrenhados e bêbados, Angie Dickinson os teria chamado de “bando de ratos”. Mesmo tendo realizado muitos filmes e shows ao lado de seus companheiros, principalmente em cassinos em Las Vegas (assim como foi o primeiro artista negro a se apresentar na boate Copacabana em Nova Iorque), era obrigado - assim como todos os artistas negros da época) a se hospedar em pensões do outro lado da cidade ao invés dos hotéis como faziam seus colegas brancos. Da mesma forma que não tinha camarins para eles, não podiam frequentar, jogar, jantar ou beber nas dependências dos hotéis cassinos que se apresentava. Mais tarde, começou a se recusar a trabalhar em lugares que praticavam a segregação racial, o que fez optar por realizar trabalhos no Canadá.
Em 1954, Davis quase morreu em um acidente automobilístico numa viagem de Las Vegas para Los Angeles em que se acidentou na rota 66. No ano anterior, havia começado uma grande amizade com o apresentador, cantor, ilustrador, comediante e ator (e judeu) Eddie Cantor, que havia dado uma Mezuzá que Davis usava no pescoço ao invés da porta para dar sorte. A única vez que ele não usou desde que ganhou, foi no dia do acidente. Esse acidente custou o olho esquerdo perfurado pelo botão do seu Cadillac. Inclusive seu amigo ator e cantor judeu Jeff Chandler disse que daria um de seus próprios olhos para salvar Davis de uma cegueira total. No hospital, Eddie Cantor descreveu as semelhanças entre os povos e as culturas judaica e negra. Davis era filho de mãe católica e pai batista, mas começou a estudar história judaica e acabou se convertendo ao judaísmo em 1961. O que mais o interessou foi a resistência do povo judeu que destaca: “os judeus não morrem. Três milênios de ensino profético deram um inabalável espírito de resignação e tinha criado neles uma vontade de viver que nenhum desastre poderia esmagar”.
Sammy Davis Jr. – Rhythm of Life
Harry Belafonte nasceu Harold George Bellanfanti Jr. no Harlem em Nova Iorque de pais jamaicanos. Seu pai era filho de mãe negra com pai judeu holandês sefaradita, e sua mãe era escocesa jamaicana. Belafonte foi criado como católico, mas sempre teve contato com sua cultura judaica por causa do seu avô. Passou parte da juventude na Jamaica sendo criado por uma de suas avós e foi lá que despertou sua paixão por música, principalmente Mento e Calypso, gêneros típicos caribenhos e muito populares na Jamaica. Após servir na marinha durante a Segunda Guerra Mundial, Belafonte se apaixonou por teatro e começou a estudar e frequentar peças e cursos, principalmente do teatro negro. Nos anos 1950s, já havia se tornado cantor e ator com certo destaque no cenário nacional e algum destaque no internacional latino. Antes de começar a se apresentar da Broadway, começou cantando em clubes em Nova Iorque para pagar suas aulas de atuação. Mas já em sua primeira apresentação, tinha Charlie Parker e Miles Davis, entre outros, na banda (duas das maiores lendas do Jazz). Inicialmente cantava música popular, mas progressivamente mais próximo do Jazz. Belefante também se apresentou em conjunto com o Rat Pack em hotéis cassino de Las Vegas ao lado de artistas como Liberace, Tay Vasquez e Sammy Davis Jr. Posteriormente, valorizando suas raízes culturais e musicais, volta sua carreira para o Mento e Calypso. Nessa época, começa a se envolver politicamente em lutas sociais como direitos civis.
Harry Belafonte - Hinei Ma Tov
Nascido em uma pobre e numerosa (foram doze filhos) família de judeus russos em 1909 em Chicago, Benjamin “Benny” David Goodman cresceu em um bairro pobre e superlotado por imigrantes alemães, irlandeses, italianos, poloneses e eslavos. Suas primeiras influências musicais foram clarinetistas de judeus de Klezmer e de Jazz de Nova Orleans que trabalhavam em Chicago. Aprendeu rapidamente tornando-se um grande músico desde cedo, logo começou a tocar nas famosas Big Bands (podemos dizer que é o Jazz comercial numa estrutura de orquestra militar e voltado para o público branco. Estruturas musicais que incorporavam o Jazz com elementos da música “tradicional” sem o caráter experimental). Ele fez sua estreia profissional em 1921 e em 1923 se tornou membro do sindicato dos músicos fazendo suas primeiras gravações em 1926. Em 1928 ele se muda para Nova Iorque e trabalha com grandes nomes como Glenn Miller, Tommy Dorsey, Joe Venuti, Nathaniel Shilkret (judeu), Red Nichols, Ben Pollack, Bem Selvin (judeu), Ted Lewis e Isham Jones. Podemos dizer que entre 1936 e final de 1950s foi a era de ouro do Rei do Swing (basicamente as Big Bands faziam dois gêneros de jazz: o Swing, mais animado e rápido, e o Standard, mais lento e calma, não necessariamente romântico. Lembrando que são designações genéricas e abrangentes), posteriormente ele experimentou outros estilos como Bebop e Cool Jazz, mas não obteve o destaque de antes, mesmo ainda sendo considerado uma lenda. Também atuou ativamente dando suporte para a luta pelos direitos civis nos EUA.
Eu particularmente acho muito bacana essa interação entre judeus e a luta por direitos civis. Como, em determinada escala, houve interação mútua entre judeus e negros para transformar o mundo e a sociedade em algo melhor para todos e não para um pequeno grupo. Acho importante um grupo que sofreu tanto com a intolerância, preconceito, discriminação e perseguição sempre estar atento para o ressurgimento dessas coisas assim como seu combate, como também o apoio aos grupos que passam ou passaram pelo menos ou similar. Afinal, as conquistas e avanços de uma luta não é somente devido ao grupo que ela afeta, mas também pela adesão de outros setores da sociedade que utilizam de empatia e racionalidade para analisar as injustiças sociais.
Benny Goodman – Sing Sing
Bernard “Buddy” Rich nasceu em 1917 no Brooklin, Nova Iorque, numa família judia cujos pais eram Vaudevilles (era uma forma de entretenimento variada englobando dança, teatro, música, comédia e elementos circense muito popular entre o final do século XIX e começo do século XX nos EUA e Canadá). Buddy Rich foi um dos maiores bateristas de Jazz (e da música, de modo geral), atuando muitas vezes como o líder da banda. Maestro e compositor, é considerado um dos bateristas mais influentes de todos os tempos. Ele descobriu sua ligação com o Jazz ainda criança e começou a tocar bateria aos dois anos. Em 1937, começou sua carreira de músico de Jazz e chegou a tocar com Bunny Berigan, Artie Shaw, Tommy Dorsey, Count Basie e Harry James. Após servir como fuzileiro da Segunda Guerra Mundial, começou seu projeto Buddy Rich Orchestra. Podemos dizer que seu apogeu foi durante a década de 1960s quando se tornou conhecido internacionalmente pelo seu talento e humor irreverente. Havia gravado arranjos para as músicas de “Amor Sublime Amor” e com o sucesso de Buddy Rich Big Band Machine.
Buddy Rich
Neil Sedaka nasceu no Brooklin, Nova Iorque, em 1939 filho de um taxista sefaradita (Líbano e Turquia) e mãe askhenazi (Rússia e Polônia), ambos filhos de imigrantes. Demonstrou aptidão musical nas aulas de coral na segunda série e logo seu professor sugeriu que estudasse piano, o que fez sua mãe arranjar um emprego numa loja de departamento para pagar suas aulas. Em 1947, ele conseguiu uma bolsa de estudos de piano na divisão preparatória para crianças da Julliard School of Music. Inicialmente, por incentivo de sua mãe, Sedaka se dedicava à música erudita e os grandes clássicos, mas acabou descobrindo as músicas populares. No começo, isso era um problema para sua mãe, mas acabou concordando e incentivando o filho após ver o primeiro cheque de cinco dígitos pela música “Calendar Girl” de 1961. Junto ao seu amigo Howard Greenfield, um aspirante a poeta que morava próximo, escreveu músicas durante boa parte da adolescência e juventude. O público-alvo era justamente adolescentes e jovens adultos com visões românticas.
Neil Sedaka – Oh Carol!
Alexis Korner (Koerner) foi um bluseiro britânico muitas vezes chamado de “um dos fundadores do Blues britânico” (British Blues). Nascido em Paris, França, em 1928 de pai judeu austríaco e mãe de ascendência grega, turca e austríaca, Korner cresceu entre a França, Suíça e Norte da África, mas se estabeleceu em Londres em 1940. Justamente nesse período, durante um ataque aéreo da Alemanha nazista em que ele estava escutando um disco de Jimmy Yancey, grande nome da música negra sobretudo Boogie-Woogie (um gênero de Blues do final do século XIX, mas muito popular nos anos 1920s, típico das comunidades negras mais ao Sul, nas zonas rurais. Posteriormente se incorporou elementos das Big Bands, Country e Gospel. Foi gênero importantíssimo para criação do Rock and Roll), que percebeu que o Blues era a sua vida e tudo que queria era tocar. Aprendeu a tocar piano e violão, posteriormente passou a usar uma guitarra construída por um amigo. Em 1949 se juntou a Chris Barber’s Jazz Band onde conheceu o gaitista Cyril Davies, grande parceiro musical durante toda sua carreira. A primeira gravação de Korner, junto ao seu parceiro, foi em 1955. Com o avanço de sua fama e influência musical na Inglaterra, Korner começa a incentivar grandes artistas do Blues do EUA a se apresentarem na Grã-Bretanha, sendo que muitos ainda eram desconhecidos do grande público. Em 1961, Korner e Davies formaram a Blues Incorporated, inicialmente um grupo de músicos que compartilham amor pelo Blues (Blues, Eletric Blues e R&B). O grupo incluiu, em diferentes momentos, grandes nomes como Charlie Watts, Jack Bruce, Ginger Baler, Long John Baldy, Graham Bond, Danny Thompson e outros. Porém, seus fãs se tornaram muito mais famosos que todos esses como Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Geoff Brad Ford, Rod Stewart, John Mayall e Jimmy Page. Na verdade, Alexis Korner tem muita influência e foi uma pessoa decisiva para a música, principalmente britânica, mas, infelizmente, não obteve tanta fama quanto merecia. Sem ele, bandas como Rolling Stones e Free não existiriam.
Alexis Korner – Oh Lord, Don’t Let Then Drop The Atomic Bomb On Me
Outro não tão conhecido, pelo menos não individualmente, é Robbie Robertson. Conhecido por sua banda The Band em que atuava como guitarrista, vocalista (um dos) e compositor. The Band é uma daquelas bandas que tem várias músicas de sucesso, mas muitas pessoas não sabem de quem é. Assim como ele, banda canadense que misturava Rock (de forma genérica) com Country e Folk formada em 1967 inicialmente como banda de Rockabilly de apoio de Ronnie Hawkins. Sua mãe era indígena (Cayuga e Mohawk) e cresceu numa reserva em que Robbie ia com frequência. Lá ele conheceu o Rock ‘n’ Roll, Blues e R&B, e sua família incentivou a tocar guitarra. Seus pais se conheceram na fábrica de sapatos em que trabalhavam, mas só depois do divórcio que sua mãe contou que seu pai verdadeiro era um judeu chamado Alexander David Klegerman que também trabalhava na fábrica, mas se tornou jogador profissional e acabou morto num acidente em que foi atropelado. Nesse momento, Robbie buscou conhecer mais suas origens e se interessar pelo judaísmo, mesmo nunca tendo sido religioso.
The Band – The Weight
Peter Greenbaum (nem preciso falar que nasceu em uma família judia) decidiu encurtar seu sobrenome para Green, o que realmente é mais sonoro para o mercado. Talvez não se lembre dele pelo nome, mas certamente conhece Fleetwood Mac. Caso não lembre da banda, com certeza já ouviu músicas deles. Peter Green foi um cantor, compositor e guitarrista inglês e, como já disse antes, foi membro fundador do Fleetwood Mac em 1967. Inicialmente, sua música era muito mais voltada para o Blues Rock e chegou a trabalhar na John Mayall’s Bluesbreakers. Inclusive, Fleetwood Mac é uma homenagem ao seu companheiro de banda desde John Mayall’s Bluesbreakers, Mick Fleetwood. Inicialmente, seu repertoria consistia basicamente em covers de Blues e alguns Blues Rock autorais, mas adquiriram fama rapidamente. Se você parar para escutar a discografia da banda, vai perceber que ela vai se tornando cada vez mais pop com o passar do tempo. Na minha opinião, era bem melhor no começo e até parece que quanto mais famosos eles ficam, mas “pobre” sua música também fica, mas continuando boa.
Fleetwood Mac – Ghost
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