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Presença da SIB no XIV Encontro Inter-religioso do TCE


No dia 18 de dezembro, no Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA), em Salvador, durante o XIV Encontro Inter-religioso, Marcos Wanderley, Diretor da Sinagoga da SIB, representou o judaísmo com um discurso profundo e sensível, no qual convidou os presentes a refletirem sobre os pilares da Fé, da Esperança e da Paz como forças vivas e transformadoras. A partir da tradição judaica, suas palavras ressaltaram a responsabilidade ética com o mundo, cultivo da esperança mesmo em tempos difíceis e construção de uma paz ativa, fundamentada na justiça, no respeito e no reconhecimento da dignidade de cada ser humano. Segue o discurso:


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" Shalom Aleichem. Que a paz verdadeira e profunda esteja com todos vocês.

 

É uma honra profunda  estar aqui no TCE, no XIV Encontro Inter-religioso, partilhando este espaço neste momento de comunhão e espiritualidade. Em um mundo frequentemente fragmentado, o simples ato de nos reunirmos, de diferentes crenças, para ouvir e partilhar, já é em si um ato de fé e uma declaração de esperança. Hoje, trago em meu coração e em minha tradição uma mensagem que é antiga, mas nunca velha; enraizada no judaísmo, mas que ressoa com o anseio universal de um espírito humano em busca de luz. Gostaria de convidá-los a refletir comigo sobre três pilares: Fé, Esperança e Paz, não como conceitos abstratos, mas como forças vivas e ativas.

 

A fé judaica, a Emuná, vai além da aceitação intelectual de um credo. Sua raiz hebraica fala de firmeza, sustentação e fidelidade. Emuná é a confiança que nos sustenta, o chão sob nossos pés quando o terreno treme. O profeta Habacuc declarou: “O justo viverá por sua fé” (Habacuc 2:4). Mas o que é viver por essa fé?

 

É viver como Abraão, que mesmo em seu íntimo diálogo com D’us, questionando a justiça, nunca abandonou o caminho (da Chesed) da bondade amorosa ativa. É seguir o exemplo de Moisés, que no momento mais sublime do Sinai, argumentou pelo povo, mostrando que a fé autêntica inclui o questionamento compassivo. Nossa fé não nos tira do mundo; ela nos joga em seu coração, com uma missão: o Tikkun Olam, a reparação do mundo. É a fé que vê a centelha divina em cada ser humano e, por isso, nos obriga a lutar contra a injustiça, a aliviar o sofrimento e a honrar a criação. Em um encontro como este, nossa fé coletiva se amplifica; ela se torna um coro polifônico, onde cada voz única canta o mesmo anseio pelo Sagrado.

 

Em hebraico, esperança — Tikva — está ligada à palavra kav, “linha” ou “fio”. A esperança é o fio que nos conecta a um futuro possível, mesmo quando o presente parece frágil. Os Salmos nos lembram: “Coloquei minha esperança em Ti, ó Eterno” (Salmo 31:2). Essa esperança não é ingênua; ela nasce da resistência histórica do povo judeu e da convicção de que cada geração pode ser uma ponte para a redenção. Como ensina o Talmud: “Mesmo que uma espada esteja sobre seu pescoço, não abandones a esperança” (Tratado Berachot 10a). A esperança é o antídoto contra o desespero, e ela se fortalece quando caminhamos juntos.

 

Shalom significa completude, integridade, bem-estar total. Vem de shalem, inteiro. Uma paz verdadeira, portanto, só existe onde há justiça (tzedek), onde a dignidade de cada pessoa é reconhecida e honrada. O grande sábio Hillel resumiu a Torá em uma frase que é um alicerce para o diálogo universal: “Não faças ao teu próximo o que não queres que te façam” (Shabat 31a). A paz começa com este respeito fundamental pela experiência do outro.

 

Mas a tradição judaica não nos deixa parar aí. O Salmo 34:15 nos ordena: “Busque a paz e persiga-a”. A paz é algo que se busca ativamente, que se persegue como um bem precioso. Ela exige trabalho árduo de escuta, de reconciliação, de construção de pontes. Em hebraico, a saudação padrão é Shalom Aleichem – “a paz esteja sobre vocês”. E a resposta é Aleichem Shalom – “sobre vocês, a paz”. É uma troca de bênção e de responsabilidade. Neste encontro inter-religioso, estamos literalmente trocando shalom, construindo ativamente um espaço de paz através do reconhecimento mútuo. Cada história de fé partilhada, cada momento de silêncio respeitoso, é um tijolo nessa construção.

 

Irmãos e irmãs, o salmista exclama: “Hine ma tov u’ma na’im, shevet achim gam yachad” – “Como é bom e agradável quando irmãos convivem em harmonia!” (Salmo 133:1). Este momento que vivemos é o desenho deste versículo. Nossa diversidade não é uma ameaça à verdade, mas uma expressão mais rica e complexa da busca humana pelo Divino. O Midrash (comentário rabínico) fala que no Sinai, a voz de D’us se dividiu em setenta línguas, para ser compreendida por todas as nações. Assim, cada tradição aqui presente guarda uma nuance preciosa dessa revelação multifacetada.

 

Não estamos aqui para diluir nossas identidades, mas para oferecê-las em contribuição a este grande mosaico espiritual da humanidade. Ao partilharmos nossas fontes de fé, nossos poços de esperança e nossas ferramentas para a paz, nos tornamos Co construtores de um mundo mais digno do sonho que D’us, ou o Sagrado, depositou em nossos corações.

 

Que este encontro e nossas atitudes positivas a cada dia nos inspire a ser agentes de fé que não se calam diante da injustiça, do antissemitismo e da discriminação, portadores de esperança que não se rendem ao cinismo, e construtores de paz que veem no outro não um estranho, mas um parceiro na jornada humana.

 

Que o Eterno, fonte de toda a fé, esperança e paz, abençoe a cada um de nós, nossas famílias e comunidades.


Shalom a todos."

 

 

 
 
 

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