TJ-BA celebra os 80 anos do fim do Holocausto em evento marcado por emoção e reflexão
- Symona Gropper
- há 19 horas
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Atualizado: há 16 horas

Uma plateia heterogênea, respeitosa, silenciosa, e por vezes emocionada, lotou o amplo auditório do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia para participar do principal evento da Semana da Memória – iniciativa da Comissão Permanente de Memória, presidida pelo desembargador Cássio Miranda – que este ano escolheu eleger como tema os 80 anos do fim do Holocausto.
A mesa de honra do evento, encabeçada pelo desembargador Cássio Miranda, foi composta também pelos desembargadores Jatahy Júnior, Maurício Kertzman Szporer, Lidivaldo Reaiche e Julio Travessa; pelo Presidente da Sociedade Israelita da Bahia - SIB, Mauro Brachmans; pela Procuradora de Justiça Armênia Cristina Santos, representante do Ministério Público da Bahia; pela advogada Cínzia Barreto, representante da OAB-BA; e pelo rabino Yisrael Bukiet.
Segundo o desembargador Cássio Miranda, “a ideia é preservar a memória para que esses fatos tenebrosos levados a efeito pelo nazismo nunca mais se repitam. Hoje, infelizmente, há uma retomada acentuada do antissemitismo, do racismo e da xenofobia. O seminário tem um conteúdo pedagógico e educativo para que as gerações presentes se situem a respeito dos verdadeiros problemas que estão afligindo o mundo”.
Mereceu destaque especial a presença no auditório de 16 alunos do 2º grau do Colégio Estadual de Tempo Integral Profa, Áurea dos Humildes Oliveira, da cidade de Aporá. Depois de estudar o Holocausto nas aulas de história e de filosofia, eles enfrentaram 186 km de estrada até Salvador para ouvir a palestra do coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, principal atração do evento.
Na sua palestra, Carlos Reiss apontou a diferença entre memória e lembrança. “Quem lembra é quem passou pelo evento, quem passou pelo nazismo. Entre 25 mil a 30 mil judeus que escaparam do nazismo vieram para o Brasil. Quantas vozes ainda restam? O que vai ser das próximas gerações sem esses testemunhos ao vivo?”, se pergunta Carlos Reiss. Pois desses quase 30 mil judeus imigrantes, só uns 250 sobrevivem até hoje.
Segundo Carlos Reiss, “a memória é formada por pedacinhos dessas lembranças. A memória é construída e é fundamental a conexão com as questões que nos afligem hoje. É uma forma de afastar vozes negacionistas. Porque a memória pode ser compartilhada. E a capacidade de universalizar a mensagem faz com que surja a memória coletiva universal”.
Ele exemplificou essa questão com a projeção de três vídeos curtos, integrantes de uma campanha criada em 2023 pelo Museu do Holocausto junto com representante da Unesco, intitulados, respectivamente, “Viver para contar. Contar para viver”, “Manter a história viva é lutar contra o ódio” e “Todas as vozes contam”.
O objetivo dessa campanha – que foi premiada internacionalmente – foi e é “trazer as lições desse genocídio para próximo de nós”. Os vídeos trazem o preconceito para a realidade brasileira ao incluir o preconceito contra os negros, o preconceito contra os índios, por exemplo.
Esses vídeos emocionaram a plateia muito diversificada que estava presente no auditório do TJ-BA e que contou com a presença também de muitos membros da comunidade judaica da Bahia.
Outro momento que comoveu a audiência foi quando Carlos Reiss contou em detalhes a história de uma garota de 14 anos sobrevivente do Holocausto e sua peregrinação até chegar ao Brasil. Enquanto ele falava, o silêncio era absoluto. As palmas estrondosas acompanhadas de lágrimas de várias pessoas saudaram o final surpreendente daquela história, em que a personagem principal foi finalmente revelada: era a avó do palestrante.
O evento contou também com a bela apresentação do coro da SIB, que cantou o Hino dos Partisanos em yidish, a canção Eli Eli e o hino de Israel Hatikva. Uma feira de livros e a exposição de trabalhos artísticos relativos à Shoá continuam abertos ao público até amanhã (sexta-feira) no Tribunal de Justiça.
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