Lembro-me bem daquele cara tranquilo, gentil, que participava de cada Cabalat Shabat na antiga sinagoga do Campo da Pólvora com nítidos interesse e curiosidade, assim como outros que, movidos cada um por seus próprios motivos e anseios, davam os primeiros passos rumo ao conhecimento da religião que começava a lhes fascinar e na qual se encontraram. E enquanto muitos judeus de nascença se acomodavam em sua condição inquestionável e se afastavam do convívio religioso e comunitário, cada vez mais os novos membros se faziam presentes com sincera alegria.
Aos poucos foi investigando e descobrindo suas origens judaicas, com crescente clareza. Nasceu judeu, apenas não o sabia. E mergulhou no propósito de corrigir esse desvio do destino. Não apenas enfrentou e venceu os desafios e desconfianças que valorizaram ainda mais a formalização do seu retorno, mas se fortaleceu com eles e se aprofundou no estudo das leis, dos costumes e da língua. Hoje, fala hebraico e lê a Torá como bem poucos entre nós. Mais que isso, a entende com coração e mente.
Ninguém deve alimentar preconceitos – ou, muito pior, externa-los. Os danos ferem a alma. Mas em particular nós, judeus, que ao longo de toda a história sofremos as agruras de sermos suas vítimas preferenciais, não temos esse direito. Por isso, quando ele surge em nosso meio, pouco diz sobre seu objeto, mas muito sobre quem se desnudou acometido desse mal.
Ouviu ou sentiu algumas demonstrações desse injustificado erro. A todas, respondeu com silenciosa disponibilidade em todos os momentos, especialmente nos mais difíceis da vida de muitos de nós. E conquistou admiradores pela forma humilde e generosa com que exerceu sua grande paixão: o ensino.
E agora, prestes a partir em busca da realização de um sonho em terras distantes, deixará um imenso vazio em nossa comunidade. Vá e seja feliz, meu amigo! Você provou ser um judeu de grande valor e nos lega marcas que não serão esquecidas por todos aqueles que, como eu, tivemos o privilégio de conviver com você.
Lehitraot!
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