Em 18 de agosto de 2022, Luciano Ariel Gomes, aterrissava no aeroporto de Heathrow, em Londres para o início de um novo período em sua vida. Membro mais que ativo em nossa em nossa comunidade por mais de 20 anos.
Ao nos aproximarmos do 1º aniversário de sua partida, era hora de um papo com nosso amigo sobre sua história, a vida na terra do Rei e um pouco sobre o que o futuro lhe reserva... Confira abaixo
Fale-me um pouco sobre a sua trajetória pessoal.
Infância, interesse pelo inglês, formação, etc.
Nasci numa família grande. Aparentemente católica, mas cheia de costumes próprios, sobre os quais posso falar em outro contexto. Minha vida era muito boa até que Ricardo nasceu e quebrou todos os meus brinquedos (haha). Depois chegaram Toni e Aline e o quarteto foi fechado. Nossos pais se separaram e virei baby-sitter. Então a escola era onde minha vida social acontecia. Formei uma banda de rock aos 15 anos e tocava bateria e guitarra, não simultaneamente, é claro. Sobre minha formação, sempre fui incentivado por meus professores a uma vida acadêmica. Passei pela contabilidade, mas o ensino sempre foi minha paixão. A princípio, fiquei em formações internacionais, promovidas pela Universidade de Cambridge, tanto de língua inglesa em si, quanto de ensino e metodologia. O curso de Letras ajudou até certo ponto, mas meu ensino sempre foi moldado aos padrões de Cambridge e a considero minha Alma Matter.
Conte um pouco sobre a sua experiência na comunidade da Bahia.
Depois de anos de busca por um caminho espiritual que acomodasse uma mente inquieta, questionadora, não-dogmática, um determinado fato me levou à busca da Torá. O judaísmo se apresentou como a única tradição que ia fazendo sentido à medida que estudava em contraste ao que acontecera no passado, em que tudo ia perdendo o sentido à medida que aprendia. Era como se as cores estavam no mundo como vistas por um filtro. Através da Torá as cores se apresentaram como eram pela primeira vez.
Tive essa sensação na primeira vez que participei de um Shacharit na antiga sinagoga da SIB, pelo menos 25 anos atrás. Samuilas Zalcbergas Z"L foi o primeiro a falar comigo e me recebeu com seu sorriso, com aquele olhar de quem vê as pessoas por dentro. Basta dizer que ele estava presente no Brit Milá de Bernardo, que aconteceu há 23 anos. Mas, ele representa para mim todos os Chaverim que formavam o Minyan e que foram meus mestres, com quem aprendia simplesmente por estar perto deles, como Joseph Barouchel Z"L que me acolheu sob suas asas, asas de anjo.
E Londres? Já se esbarrou com o Rei por aí?
Ainda não, O Rei Charles III anda muito ocupado organizando as coisas, mas brevemente tomaremos um chá (haha). Minha opção por Londres vem de um sonho antigo de passar uma temporada mais longa aqui devido às minhas conexões com a língua e cultura inglesas. Outros detalhes se apresentarão com o tempo, tanto no âmbito profissional quanto pessoal e espero compartilhar com a SIB em tempo real.
Como é então viver aí, mas praticamente trabalhar no fuso daqui?
O trabalho é tranquilo e há vantagens em começar a trabalhar um pouco mais tarde, já que a maioria de meus alunos mora no Brasil. Por exemplo, minhas manhãs estão sempre livres para estudar.
Dicas para um turista desavisado que pretende visitar a cidade…
O que posso dizer é que Londres é maravilhosa e cara para o turista, mas há milhões de coisas para fazer sem gastar nada. Por ser cara, o visitante tem que estar preparado, mas uma pesquisa sobre as atrações gratuitas fará a viagem ainda mais prazerosa. Infelizmente, Londres não é o melhor lugar no Reino Unido para aprender inglês. Para isso sugiro Cambridge, Oxford, Bournemouth e Brighton.
Conte-me um pouco sobre sua comunidade aí?
Aqui sempre pude passear entre os três movimentos judaicos e mais uma vez foi o Movimento Masorti/Conservativo que me abraçou de forma mais forte. Eu já frequentava a New London Synagogue, mas queria um Shul mais perto de casa, aí encontrei a Kol Nefesh Masorti Synagogue. Estive com eles em Yamim Noraim do ano passado e não a deixei mais. Chovem os convites para almoços e jantares até hoje. Isso ajuda a explicar os quilinhos a mais. Participo ativamente e até já faço os anúncios na sinagoga.
Conhecendo as 2 realidades comunitárias, que lições acredita que a SIB poderia ensinar a sua nova comunidade?
A Kol Nefesh é Masorti, mas o serviço é bem delineado com relação ao papel do Sheliach Tzibur. A SIB é mais informal e acho que essa tradição “sibiana”, que se aproxima mais de boa parte das comunidades sefarditas, é especial. Aí ninguém estranha se, repentinamente, uma voz, ou até vozes entrarem junto com o Sheliach Tzibur, aqui a congregação tem sua hora de cantar e dizer apenas "amén".
E vice-versa? O que sua comunidade poderia ensinar à SIB?
A Kol Nefesh tem uma forte identidade Masorti, o que veio com estudo e o desejo de saber quem é ao longo de 25 anos (a maioria é oriunda da Ortodoxia - The United Synagogue). A SIB está no caminho certo com o Rabino Leandro e suas aulas online, o que é preciso é que os que não acessam essa oportunidade comecem a fazê-lo.
O curso de Chazanim, um sonho antigo ou uma oportunidade?
Meu sonho de vir para Londres uniu-se à possibilidade de fazer um curso gradual de Chazanut. Foi como conheci a EAJL, Academia Europeia de Liturgia Judaica, onde estudo. O primeiro ano é o curso geral de Sheliach Tzibur; o segundo é o de Baal Corê e Tefilot; o terceiro e último acomoda todas as situações litúrgicas judaicas.
Alguma chance de termos nosso Ariel assumindo os microfones da SIB novamente?
Fico feliz com os serviços conduzidos por Mauro Brachmans e Marcos Wanderley. Só posso dizer que logo logo, com a ajuda de D'us, deveremos matar as saudades e, quem sabe, Mauro e Marcos me deixam fazer uma partezinha....
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