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Foto do escritorDr. Saulo Brandão de Aguiar (Beniamin Ben Avraham)

Parashat Nitsavim

O que é o estar de pé? O que é uma declaração? O que é uma constituição? O que é equidade?

Devarim (Deuteronômio) 29:9–30:20.


Imagem de Gerd Altmann por Pixabay


Essa semana estamos nos aproximando da nova releitura da Torá, estamos lendo a quinquagésima primeira parashá da Torá, oitava parashá do livro de Devarim (Deuteronômio), chamada Nitsavim (Estamos em pé). A palavra Nitsavim seria o plural uma outra palavra em hebraico chamada Nitsav que poderia ser traduzida como ficar de pé.


O texto da nossa parashá começa assim, com uma declaração/uma constituição emitida por pessoas iguais entre si e que estão de pé diante do que é Eterno para fazerem um compromisso…


Deuteronômio (Devarim): 29:9-14


“Todos vocês estão de pé no dia de hoje diante do Eterno, a essência e a instância acima de vocês: os seus líderes, os seus coletivos/grupos, os seus sábios/anciões e os seus ícones/referências, a saber, todas as pessoas de Israel, os seus homens, os seus pequeninos/crianças, as suas mulheres, o estrangeiro/diferente que está no meio de vocês, tanto aqueles mais “complexos” quanto os mais “simples”;


para que vocês assumam o contrato do que é Eterno, do D-us de vocês; para que vocês jurem à Existência/Eterno, que está acima de vocês, o acordo que se faz hoje com vocês; para que hoje vocês possam ser um povo, e o Eterno seja o Único acima de vocês, como vos disse e como prometeu com juramento aos seus antepassados, a Abraão, a Isaque e a Jacó.


Esse pacto e juramento não é somente feito com vocês, que estão diante do que é Eterno, nosso D-us, mas também com todo aquele que queira fazer o compromisso e que não está aqui conosco no dia de hoje….


Outras declarações e constituições, praticamente todos os locais que são democráticos e lugares de liberdade se basearam na nossa parashá e na Torá e continuaram a emitir o mesmo eco e a reproduzir através da história os mesmos valores da Torá…


Constituição dos Estados Unidos da América - 1788


We the people… Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade, promulgamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.


Declaração dos direitos do homem e do cidadão - 1789


Liberté, égalité, fraternité…


Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.


Declaração universal dos direitos humanos-1948:


Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo…


Constituição da república federativa do Brasil -1988


“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de D-us, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. - 5 de outubro de 1988.


Quais valores que continuam a se manter no eco da história e serem transmitidos até hoje? Vamos estudar o texto da Torá que fala sobre os princípios das declarações e das constituições?


“Todos vocês estão em pé no dia de hoje….”


Esse trecho mostra que todos, sem distinção, tem direito a vida, a liberdade, a escolha do se próprio destino e todos somos iguais em relação uns aos outros em todos os tempos… somos iguais no dia de hoje… Hoje, é o presente, a única dimensão que a realidade atua e mostra o caráter atemporal da Torá.


“…diante do Eterno, a essência e a instância acima de vocês…”


Esse trecho mostra que nenhum ser humano está acima de outro ser humano, que todos são iguais perante a essência e a instância superior, que está acima de todos, no caso de Israel, o Eterno, sua Lei/Instrução, Sua Torá.


“…os seus líderes, os seus coletivos/grupos, os seus sábios/anciões e os seus ícones/referências, a saber, todas as pessoas de Israel, os seus homens, os seus pequeninos/crianças, as suas mulheres, o estrangeiro/diferente que está no meio de vocês, tanto aqueles mais “complexos” quanto os mais “simples”…”


Esse trecho a Torá nomeia quem está em pé diante da instância superior, nesse caso, pessoas totalmente diferentes umas das outras. A Torá quer ensinar duas lições, a igualdade e a equidade. Todos nós somos iguais perante a Torá, mas somos diferentes em relação uns aos outros e para que todos sejam comtemplados no acordo, as diferenças precisam ser respeitadas, tanto do idoso, quanto da criança, da mulher e do homem, do mais simples ao mais complexo, do comum ao mais diferente… Todos devem ser respeitados em suas diferenças diante da Torá…


“…para que vocês assumam o contrato do que é Eterno, do D-us de vocês…”


Esse trecho fala sobre o entendimento das cláusulas e dos artigos da Lei, da Declaração, da Constituição e da Torá que para que todos estejam conscientes antes do acordo e pacto que irão fazer. Entender os princípios é o direito e a condição fundamental para que o compromisso seja válido, ao aceitar a Torá.


“…para que vocês jurem à Existência/Eterno, que está acima de vocês, o acordo que se faz hoje com vocês…”


Esse trecho fala sobre as obrigações e deveres que todos nós temos, conosco mesmo, com o próximo e com o Eterno, obrigações que são assumidas e que estão na Lei, após todos aceitarem o acordo da Torá.


“…para que hoje vocês possam ser um povo, e o Eterno seja o Único acima de vocês, como vos disse e como prometeu com juramento aos seus antepassados, a Abraão, a Isaque e a Jacó…”


Esse trecho fala sobre a formação da nação, do povo que agora possui um compromisso em comum, um acordo que está acima de todos, pacto baseado em valores e princípios eternos. Relata o processo de construção desse acordo que se iniciou com os nossos antepassados e que se desenvolveu com uma construção histórica até o presente momento, um processo que garante identidade e legado ao povo, um texto formador de uma Nação, uma obra escrita e oral que demonstra a grandeza e majestade mitológica que se diferencia das lendas e mitologias do mundo por apresentar verdades e conceitos essenciais a humanidade, como à proteção da Vida, liberdade, individualidade, equidade… Uma História que está escrita no grande Livro, no Livro dos livros, um caleidoscópio que demonstra a imponência lendária da Torá.


“…Esse pacto e juramento não é somente feito com vocês, que estão diante do que é Eterno, nosso D-us, mas também com todo aquele que queira fazer o compromisso e que não está aqui conosco no dia de hoje….”


Esse trecho fala sobre o caráter imanente e transcendente do pacto, da Torá e do Eterno. Assim esse acordo foi feito com todos nós no dia de Hoje e com aqueles que ainda ou já não estão mais aqui… Para toda existência, passado, presente e futuro estão garantidos, os princípios e valores da Torá.


Por que eu e você adotamos esse pacto? Por obrigação? Por que nos foi imposto? Se você acha e acredita nisso, esse pacto não é válido e não faz sentido…


Peço a todos vocês que ouvem essas palavras, que se levantem e fiquem de pé, somente se vocês acreditam no valor da Vida, na Liberdade, na Igualdade, na Equidade, na Escolha do próprio destino, na Irmandade, Fraternidade, na bondade e no desenvolvimento do nosso povo, de Israel e de toda Humanidade…


Por minha percepção esse pacto, essa Torá foi escolhida por todos nós e estamos todos aqui em pé, diante da Torá, do Eterno porque ela é a nossa essência mais profunda e seria impossível não optar por ela. Essa Lei/instrução/Torá é a nossa verdade mais íntima e seria impossível viver sem ela.


É por isso que você e eu adotamos esse pacto, um acordo de todas as gerações.

É por isso que todos nós estamos em pé, no dia de hoje, diante do Eterno: os anciões/idosos, as crianças, as mulheres, os homens, os líderes, todos nós, para reafirmarmos o compromisso com os valores e princípios da Torá junto com aqueles não estão mais aqui e com aqueles que ainda estarão.


“Peço desculpas a todos vocês de antemão por quaisquer erros que eu tenha cometido. Fiquem à vontade para fazerem recomendações e correções ao texto”


Saulo Brandão de Aguiar(Beniamim Ben Avraham)


Amém!


Referências:

  • Chumash Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer)

  • Chumash Torá - Rabbi Aryeh Kaplan ZT”L (Editora Maayanot)

  • Comentários do Rabbi Jonathan Sacks ZT”L em português(Site da Sinagoga Edmond Safra)

  • Constituição dos Estados Unidos da América – 1788

  • Declaração dos direitos do homem e do cidadão- 1789

  • Declaração universal dos direitos humanos-1948

  • Constituição da república federativa do Brasil -1988

  • Rabino Nilton Bonder - Chatzot HaShavua - Nitsavim: https://youtu.be/dxXcdG74z9Q

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