Devarim/Deuteronômio 29:9–31:30 e Haftará Ieshaiah/Isaías 61:10-63:9)
As porções da Torá Nitsavim e Vaielech abordam temas profundos de renovação espiritual e arrependimento, que são especialmente relevantes durante o período dos Iamim Noraim (Dias Temíveis). Esses dias, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, são marcados pela introspecção e pela Teshuvá (retorno/arrependimento), levando a uma reconexão com o Eterno.
A Parashá Nitsavim "estar em pé" ou "estar em posição" [Ela começa com a frase "Atem nitsavim hayom" ("Vocês estão em pé hoje"), indicando que o povo de Israel está presente diante de H’Shem para renovar o pacto]. Todos estão presentes: desde os líderes até os mais simples do povo, reafirmando o pacto que garante a continuidade de Israel como nação santa. Nitsavim traz a mensagem clara de que a aliança com H’Shem é eterna, abarcando todas as gerações.
"Vede, hoje eu coloquei diante de vós a vida e o bem, a morte e o mal." (Devarim/Deuteronômio 30:15). Esse versículo destaca a escolha que o povo deve fazer — seguir os mandamentos de H’Shem e assim escolher a vida, ou desviar-se e sofrer as consequências. Aqui, somos chamados a refletir sobre nossas escolhas e o impacto delas no nosso relacionamento com o Eterno.
Rabi Shneur Zalman de Liad explica que a Teshuvá é mais do que um arrependimento pelos pecados; é um retorno essencial à nossa própria alma, à nossa verdadeira natureza divina. No contexto de Nitsavim, isso significa que, independentemente dos erros cometidos, todo judeu tem a capacidade de "retornar" a H’Shem, porque a alma nunca perde sua conexão intrínseca com o Criador. Ele diz que o retorno ao Eterno é possível em qualquer momento, e isso está simbolizado pela afirmação de que a Torá "não está no céu, mas muito próxima de ti, na tua boca e no teu coração, para que a faças" (Devarim 30:14). Isso significa que a espiritualidade está ao alcance de todos, sem exceção. Rabi Ovadia Sforno destaca que a aliança renovada em Nitsavim é um lembrete de que o arrependimento é sempre possível, mesmo após cometer erros graves. Ele observa que as advertências e bênçãos que Moshê transmite ao povo visam garantir que eles compreendam que o retorno a H’Shem está sempre ao seu alcance, não importa quão distantes possam ter se desviado. A Parashá Vaielech [(e ele) foi] complementa a mensagem de Nitsavim, quando Moshê se despede do povo de Israel e entrega a liderança a Yehoshua (Josué). Moshê lembra ao povo que H’Shem estará sempre com eles, independentemente de quem os lidera. Ele também escreve a Torá e a entrega aos levitas, instruindo-os a lê-la para todo o povo em intervalos de sete anos, para que nunca se esqueçam da aliança com o Eterno.
Nitsavim e Vaielech se unem para trazer uma mensagem poderosa sobre a vida e a renovação. Em Nitsavim, o povo é lembrado de sua responsabilidade de escolher entre a vida e a morte, entre seguir a Torá ou afastar-se do Eterno. Já em Vaielech, a transição de liderança para Yehoshua e o lembrete de que a Torá deve ser lida e ensinada de geração em geração reforçam a continuidade dessa aliança e a necessidade de constante renovação.
Durante os Iamim Noraim, somos chamados a seguir o exemplo de Moshê em suas exortações finais: escolher a vida, o bem e o arrependimento. Como o texto citado diz: “Não podemos titubear, pois estamos num período de muita reflexão sobre os nossos atos”. O chamado ao retorno, ao arrependimento, é contínuo, e a cada Shabat, especialmente no Shabat Shuvá, temos a oportunidade de experimentar um fragmento do Olam Habá (mundo vindouro).
Que possamos utilizar este tempo para realizar a Teshuvá, a Tefilá e a Tzedaká, construindo nossa relação com o Eterno e com o próximo, elevando nossas almas e nos preparando para um novo ano de bênçãos. Shaná Tovah Umetukah!
Marcos Wanderley
Shabat Shalom Umevorach
Shaná Tová
Referências:
Zohar
Meor Hashabat Fax
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