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Parashat Shoftim

Deuteronômio 16:18 - 21:9



Como fazer justiça. Como fazer vingança.


Em Leilui Nishmat das vítimas de injustiça do mundo.


O judaísmo é uma religião? Discordo quando alguém diz que sim, por que quem diz isso ainda não compreendeu o que realmente é. Prefiro dizer que é uma civilização e contém em si, o conceito latino de “religare” que tanto as religiões falam.


Agora, por que o judaísmo não é uma religião? Porque trata de conceitos que as diversas tradições religiosas não se aproximam, talvez por acharem “mundanos” ou físicos demais e distantes da espiritualidade.


Um desses conceitos é o de justiça.


Quando você busca justiça, você não vai a um líder religioso ou a um sacerdote, você vai atrás de um juiz. Desde os tempos antigos, à justiça, as leis, as regras, normas do dia a dia estavam com os reis, faraós, líderes, ditadores, juízes, anciãos... Com os sacerdotes estavam as explicações dos fenômenos sobrenaturais, os dilemas espirituais e existenciais da vida...


Matéria e espírito são coisas diferentes. 


Na Torá, esse pensamento é bem diferente.


A Torá, difere de outros textos religiosos pois propõe a criação de uma sociedade, de uma civilização, de uma cultura, de um país, de uma nação, de leis, regras e contratos entre indivíduos e grupos.


A Torá é o texto que “cria” o conceito de Constituição, através dos dez mandamentos (dez palavras) que será a “mãe” de todas as constituições do mundo. Na Torá escrita e oral existem leis civis, leis penais, leis comerciais, leis institucionais entre muitas outras leis para que haja a defesa da vida, da liberdade e da propriedade dos indivíduos, equidade e justiça social no coletivo (princípios básicos das leis da Torá). 


Na parashá Shoftim estão as instruções para formação da instituição da justiça, entre outras:


“Juízes e Policiais designarás para ti em cada uma de tuas tribos, em todas as cidades que o Eterno, teu D-us te dá e julgarão o povo com reto juízo. Não torcerás o juízo, não farás distinção de pessoas e não tomaras suborno, por que o suborno cega os olhos dos sábios e subverte as palavras justas...


“A justiça, somente à justiça perseguirás, para que vivas e herdes a terra que o Eterno, teu D-us te dá...”


“... e se isso te for denunciado e ouvires, então indagarás bem, e eis que, sendo verdade é certo..."


“Pelo depoimento de duas testemunhas, ou de três testemunhas..."


“Quando alguma lei te for desconhecida em juízo..."


Na Torá, o conceito de lei e justiça tem múltiplas definições e palavras. Para lei temos as

palavras Mitzvot (Mandamentos), Chukim (Estatutos), Mishpatim (Juízos), Edut (Testemunho) e para justiça temos as palavras, Mishpat (Retidão) e Tsedek (Conciliação justa) nessas palavras estão os vários entendimentos do que é a lei e à justiça.


Você, leitor, como lê os textos que falam de olho por olho, dente por dente, pé por pé, vida por vida que estão na Torá?

 

Você acha algo bárbaro? Talvez porque lhe apresentaram e você esteja lendo um outro código de leis, chamado Código de Hamurabi que tem palavras semelhantes e você não tenha entendido o conceito de paridade e compensação que há no texto da Torá.


Se pergunte, qual vantagem existe para uma pessoa que teve prejuízo, causar prejuízo na outra pessoa que lhe causou danos?


Só existe a satisfação do sentimento de vingança nisso, porque se não houver uma

compensação de diversas formas pelo que foi perdido não há justiça, a pessoa continuará no prejuízo. Não há como repor um olho, um dente, um pé, mas pode haver alguma compensação. Por isso...


Vingança é causar danos em quem causou danos e...


Justiça é ter uma “compensação” pelo dano que foi causado...


Perceba que o símbolo da justiça na Torá é a balança. Se um dos lados tem mais peso, ou o outro lado tiver perdido peso, é necessário compensação para que a balança esteja em equilíbrio:


“Não carregueis convosco dois pesos, um pesado e o outro leve, nem tenhais à mão duas medidas, uma longa e uma curta. Usai apenas um peso, um peso honesto e franco, e uma medida, uma medida honesta e franca, para que vivais longamente na terra que Deus vosso D-us vos deu. Pesos desonestos e medidas desonestas são uma abominação para o Eterno, vossoD-us”


Você, leitor, acha também muito bárbaro a Torá falar tanto em pena de morte?

Superficialmente, fico feliz em perceber esse seu sentimento e o Eterno também fica muito alegre com você. Trata-se do sentimento de defesa da vida. E de fato, a vida deve ser valorizada ao máximo.


Mas talvez, você não tenha entendido o que Torá quis dizer, talvez por que justamente seja um texto de 3300 atrás.


Quando a Torá fala em pena de morte, na verdade, ela quer falar da gravidade do ato e não da condenação em si. É uma figura de linguagem. O peso da pena reflete o peso e gravidade do ato ou ação que foi feita.


Pergunto a você, qual vantagem existe em condenar alguém a morte? Isso irá fazer alguém que perdeu a vida, ter a sua vida de volta? Fará com que os familiares da vítima reencontrem o seu parente morto?


Depois que uma vida é perdida, não tem como ter compensação, não aquele que a perdeu.


A vida é importante demais para que seja compensada por dinheiro ou qualquer outra coisa que existe no mundo, por isso há um grande desequilíbrio quando alguém é assassinado.


A única forma de tentar “corrigir” o desequilíbrio é promover mais vida no mundo e fazer ações que sustentam a vida, principalmente dos familiares e dos mais próximos da vítima, se assim quiserem e permitirem. Assim diz o Talmud: Quem Salva uma Vida, Salva a Humanidade.


Da mesma forma, sua vida é tão importante que você está autorizado pela Torá a matar

alguém num caso de legítima defesa, caso sua vida esteja ameaçada e diferente de outras tradições, em que o martírio é valorizado, na tradição judaica, a vida é o valor máximo e devemos fazer de tudo para preservá-la, inclusive tirar a vida se para isso for necessário.


Levando esse princípio em consideração, as sociedades devem pesar e julgar bem o que irão fazer quando alguém causa ameaça a vida de várias ou muitas pessoas...


Quando a Torá fala de idolatria, você leitor acredita que a preocupação divina é apenas com o culto de uma estátua ou uma imagem? Talvez você não tenha entendido, o quando a “idolatria” é uma postura que leva a escravidão, opressão e ditadura de uma sociedade quando há o culto de uma pessoa e o quanto às instituições e justiça são muito importantes para evitar que um grande poder caia apenas nas mãos de uma pessoa ou um grupo de pessoas. Será que estávamos e continuamos a passar por essa situação no Brasil? Assista um documentário na Netflix chamado Como se tornar um Tirano e você vai entender a relação entre idolatria e tirania e o quanto à justiça é algo importante a vida.


Recomendo também o documentário da Netflix, O Monstro ao Lado

(CLIQUE AQUI) que fala sobre os bastidores de um julgamento em Israel e mostra a linha tênue de se fazer justiça. Peço a vocês também que assistam o vídeo do Facebook aonde o juiz Mário Klein que fala da diferença entre à justiça da Torá e à justiça ocidental e mostra vários princípios do direito judaico e talmúdico: CLIQUE AQUI 


Israel e o povo judeu desde os tempos antigos se relaciona com suas leis de forma quase romântica e carregam em si o conceito de Tzedaká (justiça) desde a mais tenra idade.


Diferente de outras nações, temos amor pelas nossas leis e pela justiça pois são elas que nos dão vida, assim como fala Ahavat Olam a reza Nós aguardamos o tempo futuro, assim como o Aleinu nos fala que a lei da Torá esteja escrita no coração de todo o povo judeu e no coração de toda humanidade para que a justiça é a misericórdia sejam tão amplas que toda a humanidade e o Eterno possa ser UM.


Saulo Brandão de Aguiar (Beniamim Ben Avraham) 

Amém! 

Referências: 

Chumash Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer)

Chumash Torá - Rabbi Aryeh Kaplan (Editora Maayanot)

Comentários do Rabbi Jonathan Sacks ZT”L

em português(Site da Sinagoga Edmond Safra)

Iniciação ao estudo da Torá - Auro del Giglio



Imagem de succo por Pixabay

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