("No princípio…")
Sidrá 1º da Torá; 1º do sefer Bereshit.
(Entre 1:1 e 6:8)
Haftarah em Ieshaiá 42:5 – 43:1
Imagem: Wiiliam Shatner
O ator William Shatnet, que viveu por décadas o Capitão Kirk na saga Star Trek – Jornada nas Estrelas, em viagem ao espaço a bordo da nave Blue Origin (Reprodução)
No princípio, H'Shem criou o universo e o tempo. Não havia nada. Ele criou tudo.
A obra da Criação desenvolveu-se de forma gradual e ordenada, do mais elementar ao mais complexo, obra que H'Shem completou em seis dias.
O ser humano é o ápice da criação de H'Shem.
No sétimo dia, H'Shem cessou sua obra de criação e santificou e abençoou aquele dia. É a primeira vez que o Shabat é mencionado.
Adam e Chavá (Adão e Eva), o primeiro casal humano, são colocados no Gan Eden, conhecido como 'O Paraíso'.
A serpente tenta Eva e a induz a comer um fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que H'Shem proibira de comer. Depois de provar da fruta, ela conseguiu que Adão provasse também.
Por causa de sua desobediência, eles são expulsos do Éden e severamente punidos: haverá mortalidade, a mulher dará à luz com dor, haverá ódio entre humanos e répteis, o homem terá que se esforçar para sobreviver, a mulher será submissa ao marido; mas o pior de tudo, a inocência e a integridade entre as pessoas foram perdidas.
A humanidade está ordenada para ser fecunda e abundante.
Adão e Eva tiveram filhos. Dos dois primeiros, Caim se dedica à agricultura e Ebel (Abel) ao pastoreio. Ele traz oferendas de animais para H'Shem, que são aceitas. Enquanto os restos da colheita oferecidos por Caim são rejeitados. O ódio e a inveja crescem nele, fazendo com que a disputa entre os irmãos termine com o assassinato de Abel. Como punição, Caim será um perpétuo errante na terra. Seus pais continuam a conceber um grande número de filhos, muitas vezes gêmeos. As dez gerações humanas estão listadas de Adão e Eva até Noé. A evolução social trouxe consigo a supremacia da depravação e do mal. Os atos mesquinhos e perversos dos homens invadem todos os cantos do mundo. Ninguém respeita as leis de Deus, nem as naturais nem as morais, nem mesmo as próprias leis sociais. A decadência e a corrupção são totais, razão pela qual a dor relacional do Eterno o leva a decretar a extinção de toda a vida na face da Terra, já que a humanidade sendo corrupta, nada nesta Terra tem uma razão de ser.
No entanto, Noach (Noé) foi reconhecido como justo pelo Eterno.
“No princípio criou D’s os céus e a terra…” (Gênesis 1:1)
A primeira palavra da Bíblia Hebraica: Bereshit – “No princípio” . Isso reflete que o universo teve origem no tempo. Há vários símbolos descritos no Tanach (Bíblia). O Eterno abençoou o nosso patriarca Abraão, afirmando que seu povo se multiplicaria como grãos de areia do mar e as estrelas do céu. Carl Sagan, em 1980, disse que as estrelas do Universo são mais numerosas que os grãos de areia do nosso planeta. De acordo com o Rabino Eliyahu Ben-Amozeg, à medida que nossa compreensão da realidade física aumenta, nossa compreensão sobre a Torá também. As novas descobertas nos campos da Física e da Óptica (Descartes e Newton) sobre a natureza da luz se potencializam porque o que não era conhecido por nossos ancestrais é nosso conhecimento agora.
Muitos cientistas e estudiosos judeus e não judeus desenvolveram teses, livros e artigos tentando harmonizar o relato bíblico sobre a Criação e a Ciência Moderna. A Teoria do Big Bang não invalida o relato bíblico. Segundo Jorge Luís Borges, o Universo e a Bíblia são dois Livros escritos pelo mesmo Autor.
A ideia central do judaismo sobre a criação é o ato de trazer à existência o Universo sem que nada tivesse existido antes dele, apenas pela vontade, o Criador Todo-Poderoso – a Torá apresenta essa noção de ex nihilo sem qualquer ambiguidade.
Os termos “caos” (teologia grega), “abismo” (mitologia) e o termo “espírito de Deus” são expressões que fazem pouco sentido para o judaísmo tradicional.
A eternidade do Universo não era apenas uma crença das massas (crença dos mitos); durante séculos, os homens e a Ciência pensavam que o Universo teria sempre existido. Hoje, os cientistas tendem a crer que a Criação do Universo teve um momento no tempo para o seu início.
Por volta do ano 500 a.e.c., Heráclito de Éfeso afirmou: “Este cosmos, o mesmo para todos, não foi criado nem por Deus nem pelos homens, mas era, é e sempre será; Aristóteles (384-322 a.e.c) pensava que tudo que sabíamos acerca do Universo indicava que ele sempre teria sido o mesmo e que para ele sua divindade não teria livre arbítrio e divindade e previsibilidade eram conceitos do mesmo patamar.
Na Idade Média, para Maimônides, a criação era a essência da Bíblia Hebraica. Desse modo, acreditar na eternidade do Universo não poderia pertencer à congregação de Moshê e Avraham. Maimônides, quando jovem, formulou (em Sanhedrim, cap. 10) os Teze Princípios Básicos da Fé Judaica – o quarto princípio afirma que Deus é o primeiro e o último, porém não inclui nada em relação à criação do mundo.
O Rabino Yossef Kafyh explica que no Livro Guia dos Perplexos de Maimônides há o tema do quarto princípio: “Um princípio fundamental da Lei de Moisés é que o mundo foi criado e que Deus o criou a partir do nada absoluto. A observação que você faz de que repetidamente discuto o princípio do mundo de acorodo com o ponto de vista dos filósofos, tem por objetivo demonstrar o milagre absoluto de Sua existência, como expliquei no Guia dos Perplexos”.
Os rabinos consideram que a Criação – Maasse Bereshit – está em um nível fora do alcance de nossa compreensão. É uma categoria fora das dimensões da forma como pensamos. Recentemente, William Shatner (90 anos), o Capitão Kirk da famosa série de Star Trek, fora convidado por Jeff Bezos para voar em um foguete e conhecer atmosfera da Terra. E o seu depoimento foi:
"Descobri que a beleza não está lá fora, está aqui embaixo, com todos nós. Deixar isso para trás tornou minha conexão com nosso pequeno planeta ainda mais profunda. Foi um dos sentimentos mais fortes de luto que já encontrei. O contraste entre a cruel frieza do espaço e o calor da Terra abaixo me encheu de uma tristeza avassaladora (...) Minha viagem ao espaço deveria ser uma celebração; em vez disso, parecia um funeral."
Um homem que fez uma série de ficção científica durante anos sobre supostas viagens pelo universo, criou uma imagem talvez errônea (ou não) do que poderia ser o Universo e ele se decepcionou, mudou os seus conceitos do que ele imaginava ser. Vi a gravação da viagem e ele ficou emocionado e parecia estar muito impressionado com o que viu para quem nunca viajara antes para o espaço… Ao voltar, começou a refletir sobre a experiência e criou as suas próprias impressões acerca do que viveu… Tentar compreender a Criação não pode ser visto com os olhos físicos, mas sim, com os olhos da espiritualidade...
Maimônides afirmou que a Criação foi o período de gestação do nosso Universo, a embriologia do cosmos. Uma teoria cosmológica baseada na Ciência seria um paradoxo. Para comprovar uma teoria cosmológica, seria pensar que o Universo é análogo aos estágios iniciais… Do ponto de vista da Tradição Judaica, o que há de comum entre o Big Bang e a Criação é o fato de haver um “princípio”. Os sábios afirmam que não conseguimos teorizar ou rastrear conceitos meramente pelo conhecimento da imaginação humana. Portanto, o “ponto médio está entre a visão cética de que nada podemos saber sobre a origem do Universo e a ingênua teorização da Cosmologia” de que podemos saber tudo através de inferências… Bereshit…
Shabat Shalom Umevorach
Referências:
Revista Morashá
Judaísmo Vivo
Ser Judeu
Chumash
Decifrando a Criação
Serjudio.com
Jornal extra.globo.com
Um das melhores Parasha que li aqui. Parabéns! Excelente.