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Pessach é o Yom Tov predileto de uma grande parte do povo de Israel. As preparações, a super faxina, a limpeza e a separação dos utensílios, a compra de Matzot, prataria especial, louças especiais, o jantar. Mas, não apenas o jantar - a Hagadá, o Maguid! É a noite em que ver-se parte do povo de Israel tem um significado que invade nossa memória, nosso olfato, nosso paladar, nosso ser.
Cada parte do Seder de Pessach e da semana que ele inicia, mexe de forma direta com nossas escolhas. Cada um pode dizer que esse ritual está ultrapassado. Afinal, faz tanto tempo que os eventos que remetem a ele aconteceram. E há quem diga que sequer aconteceram, ou se aconteceram foram o resultado de uma série de coincidências que, como mágica, serviram o propósito dos Filhos de Israel de saírem do Egito, da casa da servidão.
Há ainda o fato de, por não termos mais o Bet HaMikdash - O Templo Sagrado, não oferecemos mais o Corban Pessach - A oferenda do Pessach. Ou seja, não comemos mais o cordeiro, que seria forma explicitada na Torá. Não obstante, Chazal (Nossos Sábios, de abençoada memória) em sua genialidade sem dúvida inspirada, viram que Pessach era mais do que o Corban, era e é a base psicológica de todo um povo que havia sido escravizado e que agora caminhava para a liberdade. Um povo perseguido que caminhava para a sua libertação. Um povo discriminado que caminhava para a sua independência. Um povo difamado que caminhava para sua inocência. Um povo desterrado que caminhava para sua terra. Então, quando celebramos o Pessach, estamos na verdade celebrando tudo isso, ao mesmo tempo. Os nascidos, os homens, as mulheres, as crianças, o estrangeiro que escolheu abraçar e ser abraçado.
A Parashá desta semana começa com a ordem do Eterno a Moshé: Vai! (Bô!)
Temos que ir. A Torá nos convoca à ação continuamente. Uma vez que nos damos conta de que somos Israel, tanto o natural quanto o naturalizado, temos a missão de estabelecer e manter os valores éticos que recebemos. Valores esses que guiaram o estabelecimento das leis no mundo ocidental e boa parte do oriental, influenciando outras escolas, as quais consideramos irmãs de fé monoteísta.
É mister lembrar que os rabinos tinham na mão um ritual que não podia mais, enquanto o Templo estivesse destruído, ser observado daquela mesma forma. Eles foram e o adaptaram, e esse ritual que ao mesmo tempo traz características novas em relação à prescrição bíblica, sendo a própria Keará um exemplo, traz também o cumprimento da proibição de qualquer trabalho não relacionado à comida no primeiro e no último dias (na Diáspora um dia a mais acrescentado a ambos); a ingestão de Matzot e das ervas amargas (Maror); e estarmos reunidos em família. E, além disso, a Mitzvá de contar a história do Pessach - o supramencionado Maguid (Relato), que nos conecta com nossa tradição educacional. Assim, souberam conservar as Mitzvot dentro de uma nova, ainda que indesejada, realidade. E não foi essa habilidade que nos manteve um povo com a mesma identidade por milênios?
Essa mensagem de liberdade e igualdade entre aqueles que abraçam a Torá - a Palavra Divina, faz de Pessach uma de nossas festas favoritas - pela qual teremos que esperar até 15 de abril do calendário civil, e será num Shabat! Seu valor ético foi enfatizado por Rashi, apoiado na Mechilta d’Rabi Yishmael em sua interpretação do seguinte verso:
תּוֹרָ֣ה אַחַ֔ת יִהְיֶ֖ה לָֽאֶזְרָ֑ח וְלַגֵּ֖ר הַגָּ֥ר בְּתוֹכְכֶֽם׃
Haverá uma só Torá para o natural e para o peregrino/estrangeiro/naturalizado que peregrina/mora/habita entre vós. (Shemot/Exôdo 12:49)
E a interpretação é…ah, vocês já sabem!
Shabat Shalom!
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