Crédito da imagem: Imagem de Here and now, unfortunately, ends my journey on Pixabay por Pixabay
Qual é o sentido da palavra ACH (אח - irmão)? Nesta semana estudamos como sentimentos de inveja e despeito podem romper laços de sangue que deveriam fortalecer famílias e povos. Neste caso, o nosso.
Em nossa história, irmãos decidem que um dos seus, devido à preferência de seu pai por ele, deveria ser vendido como escravo. Não... voltemos um pouco. A decisão era que ele deveria ser morto. Um deles, o mais velho, sugere então que fosse jogado em um poço e deixado para morrer ali, mas que eles não tirassem sua vida com suas próprias mãos. Ele disse isso com a intenção de voltar depois e resgatá-lo. Outro irmão, incomodado pela severidade do destino escolhido para seu irmão mais novo, propõe que em vez de ser assassinado, ele fosse vendido como escravo. Agora sim, temos a história. Eles jamais o veriam de novo. E o mais novo, por sua vez, jamais levaria relatos negativos a seu pai, jamais lhes contaria sonhos em que ele estava em uma posição de autoridade sobre eles. Estavam livres para agir como quisessem.
Personagens: onze filhos de Yaacov.
Ações: Plano para matar o irmão mais novo - autores; todos menos Reuven, que sugere que seja jogado em um poço. Nome do irmão mais novo, Yosef.
Sugestão para que Yosef não fosse morto, mas vendido - autor; Yehudá, dessa forma foi responsável por salvar sua vida.
Compra de Yosef - autores; duas caravanas (ismaelitas e midianitas) revezam em sua compra e venda mais de uma vez, segundo Rashi.
A história então passa a relatar os eventos nas vidas do irmão escravizado e daquele que intercedeu de forma que os outros ouviram sua sugestão e o venderam, desistindo definitivamente de matá-lo.
Yosef e Yehudá
As consequências foram inevitáveis. Enquanto Yosef, mesmo escravizado, consegue viver sua vida de altos e baixos - com momentos honrosos, sempre se destacando por sua competência e trabalho - e momentos de vergonha, - indo parar na prisão devido a acusação da mulher de seu "senhor", apesar de inocente. Já Yehudá, se afasta de sua família e se une a um amigo. Em suas andanças vê dois de seus filhos morrerem e ao não querer ver seu terceiro na mesma situação, acaba por interferir em sua história familiar de maneira trágica. Tomado pela superstição, ele impede que seu filho mais novo case-se com sua nora viúva para que não viesse a morrer, como acontecera aos dois primeiros. Como resultado, ele mesmo acaba tornando-se pai dos filhos dela, que se disfarça de meretriz e o coloca em uma situação vergonhosa. Ela consegue que ele vá a ela, a engravide e ainda guarda os pertences de Yehudá, que poderiam incriminá-lo.
Apesar de tudo, Yehuda é um homem livre que consegue trazer soluções às suas próprias labutas. Yosef, escravo que estava, apesar de não sê-lo em seu íntimo, precisava negociar sua sobrevivência. Soube usar seus dons e talentos para sair de situações adversas. Enfim, serão esses dois irmãos que exercerão o protagonismo que permitirá a sobrevivência dos Filhos de Israel, que morreriam de fome se não descessem ao Egito.
O que a Torá parece nos ensinar aqui é que mesmo quando aqueles que nos são mais próximos se afastarem de nós e nos traírem e nos abandonarem, a força do caráter moldado na Torá não será abalado. Tanto o caminho tortuoso de Yehudá, que em momentos-chave demonstra sua conexão com os valores de Abraham, quanto as lutas de Yosef, vencidas pela consistência desses mesmos valores, apontam para uma educação sólida que encontrou nesses dois o terreno propício para crescer.
Ao se deparar com o erro que cometera com sua nora, Yehudá não tenta dissuadi-la, nem foge da responsabilidade e declara " 'Tzad'ká mimêni!' - 'Ela é mais justa do que eu!' " Após a experiência da venda de seu irmão, mesmo longe da família, Yehudá é fiel à Torá que conhecia. Da mesma forma, Yosef, que resistiu à mulher de Potifar e se viu preso sob a falsa acusação de assediá-la, não ficou de braços cruzados esperando que a justiça "caísse do céu". Trabalhou e aproveitou as oportunidades que se apresentaram. Foi justo consigo mesmo.
Esses dois irmãos tornam-se sinônimos de Israel porque assim como seu pai, tiveram vidas de lutas extremas que só venceram pela firmeza do caráter instrutor e restaurador da Torá enquanto amadureciam. Então, ACH (irmão - אח), pode ser aquele que nasce na mesma família que nós, mas também aquele cujos valores compartilhamos. Às vezes, são uma coisa, mas não a outra. E às vezes, são as duas. Ser irmão é uma realidade genética ou familiar, mas também é uma escolha.
No tratado Berachot do Talmud Bavli 64a lemos:
Rabi Elazar transmitiu o que Rabi Hanina disse: "os sábios da Torá aumentam a paz no mundo, como é dito: 'E todos os vossos filhos [banayich] serão instruídos sobre HaShem, e grande será a paz de vossos filhos.' (Isa. 54:13) 'Não leiam vossos filhos [banayich], mas vossos construtores [bonayich]' ".
Foi com esse espírito que os irmãos Macabeus lutaram para re-dedicar o Bet HaMikdash que havia sido profanado pelos sírios helenizados. Sem a união que promoveram, não teriam conseguido aquele grande feito.
Os filhos de Yaacov, mesmo tendo esse começo difícil, através de seus descendentes, conseguiram se unir como irmãos para entrar na terra de Israel. O mesmo pode ser dito sobre os pioneiros (halutzim) que ajudaram a construir o moderno Estado de Israel na mesma terra em que esta Parashá nos ensina:
E se estabeleceu (Vayeshev) na terra em que seu pai habitou, na terra de Canaan. (Bereshit 37:1)
Os irmãos precisaram sair da terra para formar o conceito de que juntos, na coletividade, é podiam ser os construtores da paz, os construtores da liberdade. Não precisamos concordar com tudo o que dizem nossos irmãos. Sermos irmãos quer dizer então, estarmos juntos mesmo quando discordamos. Assim seremos sempre os HaBonim HaShalom, os Construtores Paz.
Shabat shalom u'Hanucá Sameach
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