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Foto do escritorDr. Rogério Palmeira

Povo do Livro: A Hebreia de Castro Alves. O amor sefaradi do poeta.



Castro Alves( 1847-1871) teve um vida tão curta quanto intensa, conhecido pelos seus belos poemas, suas paixões fulminantes, tanto quanto pela sua luta contra injustiça da mazela da escravidão, o poeta escreveu um belo poema de amor, dedicado à “ Hebreia”.  O poema foi publicado postumamente no seu livro “ Espumas flutuantes”, mas chama atenção pela imagética típica dos românticos do século 19 e suas inúmeras referências à origem judaica da amada.


Mas quem era essa Hebreia? O Poeta quando morava no Solar Boa Vista, era vizinho do rabino Isaac Amzalak, marroquino à época radicado na capital da província da Bahia, onde chefou em 1829.. Nesta época do segundo reinado, aos poucos judeus chegavam ao Brasil, após o período colonial marcado pela perseguição inquisitorial.


O rabino Amzalak tinha 03 filhas: Ester, Mary  e Simy; alguns pesquisadores como Egon e Frieda Wolf  acreditam que não Ester, mas Mari Amzalak er a real paixão do poeta.( vide fonte https://esefarad.com/hebreia-a-musa-sefaradi-de-castro-alves/)

Mary Amzalak, acabou se casando com o dentista judeu Samuel Eduard da Costa Mesquita, dentista do imperador D. Pedro II.

Castro Alves expressou além do amor,  também a sua indignação contra as tiranias e denunciou a opressão do povo. Seu poema abolicionista mais famoso é “O Navio Negreiro ". O Poeta faleceu aos 23 anos vitimado por tuberculose

Aprecie o poema “ Hebreia”, de Castro Alves

Flos campi et lilium convallium, Cântico dos Cânticos


Pomba d′esp′rança sobre um mar d′escolhos!

Lírio do vale oriental, brilhante!

Estrela Vesper do pastor errante!

Ramo de murta a rescender cheirosa!…

Tu és, ó filha de Israel formosa…

Tu és, ó linda, sedutora Hebreia…

Pálida rosa da infeliz Judéia

Sem ter o orvalho que do céu deriva!

Porque descoras quando a tarde esquiva

Mira-se triste sobre o azul das vagas?

Serão saudades das infindas plagas,

Onde a oliveira no Jordão se inclina?

Sonhas acaso, quando o sol declina,

A terra santa do Oriente imenso?

E as caravanas no deserto extenso?

E os pegureiros da palmeira à sombra?!…

Sim, fora belo na relvosa alfombra,

Junto da fonte onde Rachel gemera

Viver contigo qual Jacob vivera,

Guiando escravo teu feliz rebanho

Depois nas aguas do cheiroso banho

— Como Suzana a estremecer de frio

Fitar-te, ó flor do babilônio rio,

Fitar-te a medo no salgueiro oculto…

Vem pois!… Contigo no deserto inculto

Fugindo às iras de Saul embora,

David eu fora, — se Michol tu foras,

Vibrando na harpa do profeta o canto..

Não vês?… Do seio me goteja o pranto

Qual da torrente do Cedron deserto!…

Como lutara o patriarca incerto

Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o Lothus para o chão pendido.

Vem ser o orvalho oriental, brilhante!…

Ai! guia o passo ao viajor perdido,

Estrela vesper do pastor errante…


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