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Tzom - Jejum de Tevet 

O Jejum do 10 de Tevet (Assará BeTevet) - este ano, dia 30 de dezembro; começa às 4 e termina 18:26 - é uma data que encapsula camadas de luto na história judaica, servindo tanto como uma memória de um desastre nacional antigo quanto como um espelho para reflexões contemporâneas.

 

O Significado Histórico e a Origem do Jejum

 

O 10 de Tevet é, primordialmente, um dia de luto nacional que marca o início do cerco de Jerusalém pelo imperador babilônio Nabucodonosor. Este evento, ocorrido em 588 AEC, foi o primeiro ato de uma tragédia em três atos:

 

· 10 de Tevet (Tevet): início do cerco a Jerusalém.

· 17 de Tamuz: queda dos muros da cidade.

· 9 de Av (Tishá b'Av): destruição do Primeiro Templo Sagrado e exílio do povo.

 

Por isso, nossos Sábios viram este dia como a "origem de todas as calamidades", o momento em que começou a dispersão e os sofrimentos que se seguiram na história judaica.

 

Outras Tragédias Lembradas nesta Data

 

A tradição rabínica associou a esta data mais duas tragédias que ocorreram dias antes, concentrando a memória em um único dia de jejum:

 

· 8 de Tevet: a tradução da Torá para o grego, encomendada pelo rei Ptolomeu. Apesar do milagre envolvido, os Sábios consideraram este um dia trágico, pois a tradução foi motivada por intenções humanas e não divinas, facilitando a assimilação cultural e possíveis distorções do texto sagrado.

 

· 9 de Tevet: O falecimento de Ezra, o Escriba. Ezra foi uma figura fundamental na liderança do retorno do exílio babilônico, na construção do Segundo Templo e na preservação do judaísmo autêntico.

 

Uma Dimensão Contemporânea: O "Dia do Kadish Geral"

 

No século XX, o 10 de Tevet ganhou um novo significado. O Rabinato Chefe de Israel designou este dia como Yom HaKaddish HaKlali (o Dia do Kadish Geral). É um dia para recitar preces em memória das vítimas do Holocausto (Shoá) cuja data exata de morte é desconhecida. Para muitos, este dia é preferível ao Yom HaShoah oficial, pois ocorre em um mês já marcado pelo luto, evitando questões sobre a permissibilidade de lamentações no mês de Nissan.

 

Como o Jejum é Observado

 

· Duração: é um jejum "menor", observado do amanhecer ao anoitecer.

· Obrigatoriedade: são isentos do jejum pessoas doentes, idosas, e mulheres grávidas ou que amamentam e sentem dificuldade.

· Característica única: é o único jejum menor que, de acordo com o calendário atual, pode ocorrer numa sexta-feira. Neste caso, o jejum não é adiado e deve ser cumprido, mesmo que isso signifique entrar no Shabat com fome, destacando sua severidade.

· Práticas religiosas: nas sinagogas, são recitadas preces especiais de penitência (Selichot) e são feitas leituras da Torá e dos Profetas.

 

 O Jejum que Contém Multidões

 

O 10 de Tevet é um microcosmo da memória judaica. Mais do que lembrar um único evento, ele nos convida a uma reflexão em camadas:

 

· A Semente da Perda: o jejum nos ensina a prestar atenção aos inícios. O cerco não foi a destruição final, mas foi o ponto de inflexão, o momento em que o destino se tornou provável. Ele nos alerta para não ignorarmos os primeiros sinais de ruptura, seja em nossa vida espiritual, comunitária ou nacional.

 

· Luto pela Perda da Essência: a lembrança da tradução da Torá para o grego adiciona uma camada profunda - o luto não é apenas por pedras destruídas, mas por uma essência que pode ser diluída. É uma reflexão sobre os perigos da assimilação cultural, da perda da conexão com o texto original e de sua substituição por interpretações externas.

 

· A Memória sem Rosto: a incorporação do Kadish Geral pelo Holocausto transforma o dia. Ele liga a destruição nacional antiga à catástrofe moderna, sugerindo um continuum de exílio e perseguição. Mais importante, dá um rosto e uma prece à memória anônima. Enquanto o 9 de Av lamenta uma perda coletiva e simbólica, o 10 de Tevet, em sua dimensão moderna, chora pela perda individual de milhões, cujos nomes e datas muitas vezes se perderam.

 

· Um Jejum de Inverno: diferente do 9 de Av, que ocorre no calor do verão e é repleto de lamentos públicos, o 10 de Tevet cai no inverno, no escuro. Sua observação é mais interior, silenciosa. Parece sussurrar que algumas tristezas são tão profundas que não exigem demonstração externa, apenas uma quieta abstinência e uma introspecção contida.

 

Em síntese, o 10 de Tevet é um dia que, com quieta insistência, nos pede para lembrar o começo do fim, honrar a pureza da origem e dignificar os que foram apagados. É um jejum que, em sua aparente simplicidade, carrega o peso de uma história longa e complexa, sempre com o objetivo último, como ensinou Maimônides, de "despertar os corações para o arrependimento".

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